‘Jesus da Sibéria’ é condenado a campo de prisioneiros na Rússia
O fim da ‘Igreja do Último Testamento’
Sergei Torop, um ex-guarda de trânsito que há três décadas se autoproclamava a reencarnação de Jesus Cristo, foi condenado pela justiça russa a uma pena a ser cumprida em um campo de prisioneiros. Conhecido como “Vissarion” ou o “Jesus da Sibéria”, ele liderava um culto com milhares de seguidores em uma comunidade isolada no coração da Sibéria, conhecida como “Cidade do Sol”.
A condenação marca o capítulo final de uma longa investigação do governo russo contra o grupo, chamado de “Igreja do Último Testamento”. As autoridades de Moscou acusam Vissarion de usar sua influência para extorquir dinheiro e causar danos psicológicos e físicos a seus seguidores, acusações que seus advogados e devotos negam veementemente, afirmando se tratar de perseguição religiosa.
As acusações contra o líder do culto
A prisão de Vissarion e de dois de seus principais assessores ocorreu em 2020, em uma operação cinematográfica que envolveu helicópteros e tropas de forças especiais. A promotoria russa argumentou que o líder e seu círculo íntimo submetiam seus seguidores a um controle mental e a condições abusivas. As principais acusações que levaram à condenação foram:
- Extorsão e Controle Financeiro: O grupo era acusado de pressionar os seguidores a doarem seus bens e economias para a comunidade.
- Danos Psicológicos e Abuso Emocional: A promotoria alegou que as rígidas regras e o isolamento da comunidade causavam danos à saúde mental dos membros.
A vida na ‘Cidade do Sol’
Desde o início dos anos 90, após o colapso da União Soviética, Vissarion e seus seguidores construíram uma utopia ecológica no meio da taiga siberiana. A comunidade vivia sob um conjunto de regras e crenças que mesclavam preceitos do cristianismo ortodoxo com doutrinas ambientais e reencarnação. Os seguidores, que chegaram a ser milhares, incluindo profissionais de toda a Rússia e de outros países, viviam de forma simples, sem dinheiro e com foco na autossuficiência.
Para os devotos, Vissarion era um guia espiritual que ensinava um caminho de harmonia com a natureza. Para as autoridades russas, no entanto, ele era o líder de uma seita perigosa que operava fora do controle do Estado.
Repressão a grupos religiosos na Rússia
O caso do “Jesus da Sibéria” não é um evento isolado. Ele se insere em um contexto mais amplo de repressão a grupos religiosos não tradicionais na Rússia de Vladimir Putin. Nos últimos anos, o governo russo tem usado leis contra o extremismo para reprimir diversas organizações religiosas, incluindo as Testemunhas de Jeová e grupos protestantes, em um esforço para fortalecer a influência da Igreja Ortodoxa Russa, vista como um pilar de apoio ao Kremlin.
A condenação de Vissarion a um campo de prisioneiros é vista por grupos de direitos humanos como mais um exemplo da falta de liberdade religiosa no país e da determinação do Estado russo em eliminar qualquer forma de organização social ou espiritual que não esteja sob seu controle direto.
Redação com informações de G1