Laudêmio: A ‘Taxa’ Milenar que Ainda Envolve a Venda de Imóveis no Brasil

A prática do laudêmio, uma cobrança de 2,5% sobre o valor de imóveis situados em terras historicamente vinculadas à Igreja Católica, permanece ativa no Brasil.  Originada no período colonial, essa taxa continua a impactar transações imobiliárias em diversas regiões do país.

Origens Históricas do Laudêmio

Durante a colonização portuguesa, era comum que fiéis doassem terras a santos católicos, com o intuito de atrair a construção de capelas e fomentar o desenvolvimento de comunidades.  Essas terras, muitas vezes, tornaram-se centros urbanos, mas legalmente ainda pertencem à Igreja Católica, que as administra como representante dos santos.

A enfiteuse, regime jurídico que sustenta o laudêmio, foi incorporada ao Código Civil brasileiro e estabelece que o proprietário do domínio útil (o morador) deve pagar uma taxa ao senhorio direto (a Igreja) ao vender o imóvel.  Mesmo após a venda, a Igreja mantém a propriedade do terreno, perpetuando a cobrança a cada nova transação.

Impactos nas Transações Imobiliárias

A cobrança do laudêmio afeta diretamente o mercado imobiliário.  Em cidades como Ribeirão Preto (SP), por exemplo, a arquidiocese local detém a propriedade de áreas centrais, gerando receitas significativas com a taxa.  A venda de um imóvel de R$ 1 milhão pode resultar em um pagamento de R$ 25 mil à Igreja.

Além da Igreja Católica, a União e a família imperial brasileira também se beneficiam da enfiteuse, arrecadando laudêmio em terrenos de marinha e em áreas como Petrópolis (RJ), respectivamente.

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Desafios e Controvérsias

A manutenção do laudêmio gera debates sobre sua relevância nos tempos atuais.  Críticos argumentam que a taxa onera os compradores e dificulta a formalização de propriedades.  Em algumas localidades, a presença da enfiteuse impede a cobrança de impostos como o IPTU e dificulta o acesso a programas habitacionais, já que as terras são consideradas privadas.

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não possui dados consolidados sobre a arrecadação do laudêmio, pois as informações estão descentralizadas entre as dioceses.  Enquanto isso, outras denominações religiosas, como a Igreja Universal do Reino de Deus, já criticaram a prática, classificando-a como “medieval e anticristã”.

Perspectivas Futuras

Embora o Código Civil de 2002 tenha proibido a criação de novas enfiteuses, as existentes foram mantidas.  Em Portugal, a prática foi abolida após a Revolução dos Cravos em 1974, mas no Brasil ela persiste, refletindo a influência histórica da Igreja Católica na política e na legislação do país.

Especialistas defendem a revisão do laudêmio à luz do princípio da função social da propriedade, visando simplificar e desonerar as transações imobiliárias.  A discussão sobre o fim dessa cobrança milenar continua, enquanto muitos brasileiros ainda se deparam com a surpresa de ter que pagar uma taxa a santos por imóveis adquiridos em pleno século XXI.

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