Mais caras que uma casa: As coloridas cabines de praia na Austrália que custam milhões e não têm nem banheiro
Símbolos de status e herança da Era Vitoriana, as ‘beach boxes’ de Melbourne são um dos mercados imobiliários mais ilógicos e exclusivos do mundo, onde uma simples cabana pode valer mais que um apartamento de luxo.
Imagine pagar mais de R$ 3 milhões por um imóvel na praia que não tem quarto, banheiro, água encanada ou sequer eletricidade. Parece um péssimo negócio, mas este é o paradoxo das icônicas e coloridas “beach boxes” (cabines de praia) de Melbourne, na Austrália. Essas pequenas estruturas de madeira, enfileiradas à beira-mar, tornaram-se um dos investimentos mais bizarros e exclusivos do planeta, onde uma simples cabana pode custar mais caro que uma casa de subúrbio inteira.
Nascidas no século XIX, durante a rígida moralidade da Era Vitoriana, as cabines serviam a um propósito prático: eram um local privado para os banhistas trocarem de roupa, já que era proibido andar com trajes de banho pelas ruas ou se trocar na areia. A maioria dessas estruturas foi demolida ao longo do século XX em toda a Austrália. As poucas que restaram, cerca de 2.000 na região de Melbourne, viraram artigos de luxo absoluto por um único motivo: a escassez.
O resultado é um mercado imobiliário surreal. Na badalada cidade turística de Portsea, uma dessas cabines pode facilmente ultrapassar a marca de 1 milhão de dólares australianos (cerca de R$ 3,4 milhões). O valor é superior ao preço médio de uma residência em Melbourne (cerca de R$ 2,7 milhões). Agentes imobiliários estimam que o valor desses pequenos galpões pode dobrar a cada sete ou dez anos.
Um ‘luxo ilógico’ cheio de regras
Ser proprietário de uma “beach box” é pertencer a um clube exclusivo com regras rígidas. O comprador precisa ser dono de um imóvel na mesma região, não pode alugar a cabine para turistas nem usá-la para fins comerciais. Também é proibido acampar ou dormir no local. Além do preço de compra, o dono precisa pagar uma licença anual à prefeitura, impostos e um seguro de responsabilidade civil milionário. Para completar, os bancos não financiam a compra, o que significa que todas as transações são feitas à vista.
Para o morador local John Rundell, que comprou sua cabine em 1992 por apenas 12 mil dólares australianos, o valor não é financeiro. “De que adianta chamar de investimento se você não quer vender?”, questiona. Para ele, a cabine é um patrimônio familiar, usado para guardar equipamentos de praia e celebrar momentos com a família, passando de geração em geração.
Consultores de investimento, no entanto, são céticos. “Comprar uma ‘beach box’ é, francamente, uma compra ilógica”, afirma a especialista Cate Bakos. Sem gerar renda e com custos contínuos, o investimento desafia qualquer lógica financeira tradicional. No fim, as coloridas cabines de praia da Austrália são um fascinante testemunho de como o status, a tradição e, acima de tudo, a extrema raridade podem criar um valor que o dinheiro pode comprar, mas a lógica não consegue explicar.
Traduzido e adaptado da Associated Press
Redação do Movimento PB [NMG-ogo-25092025-U7V3W9-15P]
