Menino Angolano Viaja Clandestino para Encontrar Martinho da Vila

Uma Viagem Inusitada
Em maio de 1980, Gonçalves Antônio Sobrinho, um menino angolano de 10 anos, protagonizou uma história surpreendente ao viajar clandestinamente de Luanda para o Rio de Janeiro em busca de seu ídolo, o sambista Martinho da Vila. Após conhecer o cantor durante uma excursão em Angola, o garoto, fã declarado, embarcou em um voo da TAP sem documentos, passou pelos controles de imigração e chegou ao Brasil com apenas uma anotação na mão: “Grajaú”. A façanha, relatada pelo jornal O Globo, emocionou o país.
Encontro com Martinho em Angola
Martinho da Vila, então em turnê com artistas como Chico Buarque e Clara Nunes, conquistou multidões em Angola. Gonçalves, encantado pelo sambista, seguia-o por onde passava, pedindo para acompanhá-lo. “Era um garoto esperto, perguntava se podia vir comigo”, lembra Martinho. Brincando, o cantor disse que bastava procurar sua casa em Vila Isabel. Sem imaginar a determinação do menino, Martinho retornou ao Brasil, onde foi internado por estafa, sem saber da aventura que estava por vir.
Chegada ao Rio e Busca no Grajaú
Ao desembarcar no Rio, Gonçalves enganou os agentes de imigração em Luanda e no Galeão, alegando que sua mãe o seguia. Sem encontrar a casa de Martinho no Grajaú, o taxista que o levou recorreu à Rádio Globo, onde o locutor Haroldo de Andrade ajudou a localizar a família do cantor. Lícia Caniné, então companheira de Martinho, e o empresário Vitor Roberto reconheceram o menino, que havia deixado uma mala no hotel da delegação em Angola. A história comoveu a todos.
Dias no Brasil e Retorno a Angola
Com autorização judicial, Gonçalves passou um fim de semana com Martinho em Duas Barras, na Região Serrana do Rio. Brincou com instrumentos, andou de bicicleta e visitou o Pão de Açúcar com Lícia. “Tínhamos que vigiá-lo o tempo todo, ele saía andando por aí”, recorda Martinho. Apesar do carinho, o Juizado de Menores determinou seu retorno a Angola. Antes da partida, a família do sambista garantiu momentos inesquecíveis ao garoto, que deixou o Brasil sem que o contato fosse mantido.
Legado Cultural de Martinho
A história de Gonçalves reforça os laços de Martinho com Angola, onde é considerado “meio angolano” por sua contribuição cultural. Em 1982, lançou o LP Canto Livre de Angola, e em 1984, organizou o festival Kizomba, celebrando a arte negra. Em 1992, publicou o livro Kizombas, andanças e festanças. Em 2025, aos 87 anos, Martinho celebra os 50 anos da independência angolana com o show Canto Livre de Angola no Circo Voador, misturando sucessos como “Canta canta, minha gente” com canções africanas.
Com informações de O Globo