O maior desafio das empresas não é a IA, é o diálogo entre gerações
Em um mundo corporativo obcecado por tecnologia, o estrategista Marc Tawil argumenta que a verdadeira inovação está em resgatar a mais humana das habilidades: a escuta entre profissionais de idades e visões de mundo diferentes.
Em meio a um bombardeio de mantras corporativos como “inovação”, “disrupção” e a busca incessante pela próxima ferramenta de Inteligência Artificial, o maior desafio das empresas pode estar passando despercebido. Não se trata de um novo software ou de um algoritmo mais eficiente, mas de algo muito mais fundamental: a crescente dificuldade de fazer com que diferentes gerações “conversem de verdade”. É o que defende o estrategista de comunicação Marc Tawil, que levou a reflexão ao palco do TEDxCuiabá.
A provocação é direta: o silêncio mais perigoso em uma organização não é a ausência de som, mas a ausência de escuta. Pela primeira vez na história, até sete gerações distintas – dos Silenciosos aos Alphas – compartilham o mesmo ambiente de trabalho. Pessoas que cresceram com o rádio, a TV, o smartphone e o TikTok estão lado a lado, mas, muitas vezes, operando em frequências diferentes, incapazes de se sintonizar.
‘Papo de boomer’ ou ‘coisa de novato’? O silêncio que custa caro
De um lado, profissionais mais jovens chegam falando em “propósito”, “impacto” e “liberdade”. Do outro, os mais experientes valorizam a “consistência”, a “lealdade” e a “profundidade”. Nenhum dos lados está errado, mas o ruído invisível entre eles impede que o melhor de cada visão de mundo se encontre. O resultado é um ambiente onde ideias são descartadas com rótulos depreciativos como “isso é papo de boomer” ou “isso é coisa de quem está começando”.
Essa falta de diálogo, segundo Tawil, não é apenas um problema de convivência. Ela sabota a inovação, enfraquece a cultura e dificulta a retenção de talentos. Quando as gerações deixam de se escutar, o que se perde é a sabedoria coletiva, a capacidade de resolver problemas de forma criativa e a própria humanidade do ambiente de trabalho.
A mesa de jantar como modelo: resgatando a arte de escutar
Para ilustrar a solução, o estrategista recorre a uma memória pessoal: a mesa de jantar de sua infância, um espaço onde a escuta era um ritual sagrado. “Na mesa, o tempo não corre em linha reta. Corre em círculos, pois conecta”, afirma. A proposta é que as empresas criem suas próprias “mesas de conversa”, espaços intencionais para a troca genuína, onde a hierarquia dá lugar à curiosidade.
Isso se traduz em práticas concretas, como a mentoria reversa, onde os mais novos ensinam os mais velhos sobre novas tecnologias e comportamentos, e a inclusão da diversidade etária como pilar estratégico nas pautas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Trata-se de reconhecer que a escuta não é uma “soft skill”, mas uma competência de liderança dura e essencial.
A mensagem final é poderosa: escutar não significa concordar, mas sim validar a existência e a legitimidade da perspectiva do outro. Em um futuro próximo, o grande diferencial competitivo das empresas não será a tecnologia que elas usam, mas a sua maturidade relacional. A organização que aprender a fazer com que suas gerações se escutem de verdade terá acesso a um repertório estratégico que nenhuma IA pode replicar. Porque, quando a escuta acontece, o tempo não separa. Ele costura.
Da redação com base em artigo de Marc Tawil
Redação do Movimento PB [GMN-GOO-28082025-023901-A9F4C2-15P]
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