A Praia do Segredo, no RN, sofre com lixo de vários continentes, que afasta turistas e prejudica ecossistemas. Navios são suspeitos, mas culpar só a Ásia exige cautela.

A Praia do Segredo, no litoral do Rio Grande do Norte, já foi um refúgio de beleza intocada, atraindo turistas com suas paisagens selvagens. Hoje, porém, o cenário é diferente: garrafas plásticas, latas e até frascos de óleo de motor se acumulam na areia, afastando visitantes e ameaçando a vida marinha. Embora muitos resíduos tenham origem asiática, apontar o dedo apenas para navios do continente exige cuidado — o problema é global e envolve múltiplas fontes.

Um litoral soterrado por resíduos

Uma investigação recente revelou a presença de embalagens de bebidas, produtos de limpeza e até removedores de tinta na Praia do Segredo. Muitas estão quase intactas, sugerindo descarte recente. Embora rótulos asiáticos predominem, há itens do Brasil, Estados Unidos e países africanos, mostrando que a poluição não tem uma única origem. O lixo, levado pelas correntes marítimas, transforma o paraíso em um alerta ambiental.

Navios como suspeitos, mas com ressalvas

Especialistas, como Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP, apontam navios como prováveis responsáveis. O transporte marítimo, que move 90% do comércio global, gera resíduos que, por vezes, são jogados no mar para evitar taxas portuárias. A Ásia, com 20 dos 30 portos mais movimentados do mundo, está no centro dessas rotas, mas culpar apenas o continente simplifica o problema. Navios de diversas bandeiras, além de fontes terrestres, como rios e cidades costeiras, também contribuem para a poluição.

Impactos além da paisagem

O lixo não só prejudica a beleza da praia, mas afeta a economia local. O turismo, vital para Natal, sofre com a queda de visitantes, impactando hotéis e comerciantes. No ecossistema, o cenário é ainda mais grave: tartarugas e peixes ingerem plásticos, enquanto microplásticos contaminam a cadeia alimentar, chegando até humanos. Substâncias químicas de detritos poluem água e solo, ameaçando comunidades pesqueiras.

Fiscalização em andamento

O Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) investiga o caso, coletando dados junto a órgãos ambientais. O Ibama, responsável pela proteção do meio ambiente, foi acionado, mas ainda não se pronunciou. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e o Ministério de Portos e Aeroportes, que regulam o setor portuário, afirmam seguir padrões globais, mas a fiscalização de descarte irregular enfrenta barreiras.

Soluções exigem ação conjunta

Resolver o problema vai além de culpar uma região. O Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar busca monitorar e reduzir resíduos, mas a aplicação é lenta. Mutirões de limpeza, como os organizados por voluntários, ajudam, mas não atacam a raiz. Especialistas sugerem regras mais rígidas para navios, taxas fixas em portos e incentivo a materiais biodegradáveis. A poluição na Praia do Segredo reflete um desafio global, que pede cooperação entre países e maior consciência local.

Um chamado à responsabilidade

A Praia do Segredo é um espelho do descuido humano com os oceanos. Apontar apenas navios asiáticos como vilões mascara a responsabilidade compartilhada — de governos, empresas e cidadãos. Proteger esse tesouro natural exige mais do que investigações: é preciso mudar como lidamos com o lixo, no mar e em terra.


Por redação do Movimento PB com informações de Olhar Digital e outras fontes públicas.

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