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Preta Gil: A Voz da Resistência que Silenciou aos 50 Anos

A música brasileira perdeu uma de suas vozes mais vibrantes. Preta Gil, cantora, empresária e apresentadora, faleceu neste domingo, 20 de julho de 2025, aos 50 anos, vítima de complicações decorrentes de um câncer de intestino diagnosticado em 2023. Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, Preta foi muito mais que uma herdeira da Tropicália: ela construiu sua própria história, marcada pela luta contra preconceitos e pela defesa da diversidade. Sua partida deixa um vazio no cenário cultural e reforça a importância da conscientização sobre o câncer.

Uma Vida Moldada pela Arte e pela Luta

Nascida no Rio de Janeiro em 8 de agosto de 1974, Preta Maria Gadelha Gil Moreira cresceu entre a efervescência cultural da Tropicália e os desafios de uma infância dividida entre Rio e Salvador. Filha de Gilberto Gil, sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, ela viveu cercada por gigantes da música brasileira. Mas sua trajetória foi além da sombra familiar. Bissexual, mulher preta e fora dos padrões estéticos, Preta enfrentou racismo, gordofobia e homofobia desde cedo, transformando essas experiências em combustível para sua arte e ativismo.

Desafios Pessoais e Atos de Coragem

Preta nunca fugiu de confrontos. Ainda adolescente, foi expulsa do Colégio Andrews, no Rio, após protestar contra uma declaração homofóbica de uma professora, beijando uma amiga em sala como forma de resistência. “A gente era muito para frente”, lembrou ela em sua autobiografia, “Os Primeiros 50”. Outro episódio marcante foi o preconceito enfrentado por seu nome, “Preta”, que gerou resistência até no cartório. Com apoio do pai e da avó, o nome foi registrado como Preta Maria, um símbolo de sua identidade e luta. Esses momentos moldaram sua postura combativa, que ecoou em sua música e em sua presença pública.

Carreira: Da Produção à Frente dos Palcos

Embora cercada pela música desde criança, Preta começou nos bastidores, trabalhando como produtora e publicitária. Aos 28 anos, incentivada por amigas como Ivete Sangalo e Ana Carolina, lançou seu primeiro álbum, “Prêt-à-Porter” (2003), com o hit “Sinais de Fogo”. A capa, em que posava nua, gerou polêmica, mas Preta enfrentou as críticas com autenticidade, consolidando sua imagem como uma artista que desafiava tabus. Nos anos seguintes, lançou discos como “Preta” (2005), “Sou Como Sou” (2012) e “Todas as Cores” (2017), este último com parcerias marcantes com Gal Costa e Pabllo Vittar, reforçando sua mensagem de diversidade.

O Bloco da Preta e o Impacto Cultural

Em 2009, Preta fundou o Bloco da Preta, que se tornou um dos maiores fenômenos do Carnaval carioca. Com sua energia contagiante, o bloco celebrava a cultura negra e a inclusão, atraindo multidões. Em 2023, por conta do tratamento contra o câncer, ela precisou cancelar sua participação, mas voltou em 2024 para comemorar os 15 anos do bloco com o tema “Eu Venci”. Sua presença no Carnaval era um reflexo de sua capacidade de unir arte e ativismo, transformando a festa em um espaço de resistência e celebração.

A Batalha Contra o Câncer

Em janeiro de 2023, Preta anunciou o diagnóstico de adenocarcinoma de intestino. Com transparência, ela compartilhou sua jornada, enfrentando quimioterapia, radioterapia, cirurgias e uma grave infecção que a levou à UTI. Em dezembro de 2023, celebrou a remissão, mas, em agosto de 2024, novos tumores foram detectados, marcando o retorno da doença. “O meu câncer voltou”, disse ela, com a mesma coragem que sempre a definiu. Preta usou sua visibilidade para incentivar a prevenção, destacando a importância de observar sinais como alterações nas fezes e buscar diagnóstico precoce.

“Se eu estivesse em casa, eu não estava mais aqui”, revelou Preta no programa Conversa com Bial, sobre a gravidade de sua internação.

Legado na Paraíba e no Brasil

Embora carioca, Preta tinha laços com o Nordeste, especialmente pela conexão com Salvador e a cultura baiana. Na Paraíba, sua música e seu ativismo inspiraram artistas e movimentos culturais, como os blocos de Carnaval de João Pessoa, que ecoam a mesma celebração da diversidade. Sua luta contra o câncer também ressoa em um estado onde a conscientização sobre a doença ainda enfrenta barreiras. Hospitais como o Napoleão Laureano, referência em oncologia em João Pessoa, refletem a importância de campanhas como as que Preta defendia, reforçando a necessidade de acesso à saúde e prevenção.

Um Silêncio que Ecoa

A partida de Preta Gil não é apenas a perda de uma artista, mas de uma voz que desafiou padrões e abriu caminhos. Sua música, seu bloco e suas lutas deixaram marcas profundas, da Tropicália ao Carnaval, do Rio à Paraíba. Como uma mulher que transformou dores pessoais em arte coletiva, Preta nos lembra que a resistência é também uma forma de amor. Seu legado, como uma chama que não se apaga, continuará inspirando quem acredita na força da diversidade e na coragem de ser quem se é.

Adaptação de UOL Splash [GRK-XAI-20072025-2009-3]

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