Prisão disfarçada: Arábia Saudita mantém meninas e mulheres em centros de “reabilitação” por desobediência e abuso

Investigações revelam maus-tratos, detenções arbitrárias e controle masculino sobre a liberdade das internas

Centros administrados pelo governo da Arábia Saudita, oficialmente chamados de Dar al-Reaya — ou “casas de cuidado” — vêm funcionando, na prática, como prisões para meninas e mulheres acusadas de crimes como desobediência, relações extraconjugais ou até mesmo por serem vítimas de abuso. A denúncia foi publicada pelo jornal britânico The Guardian, com base em uma série de entrevistas e documentos inéditos.

Criadas na década de 1960, essas instituições são geridas pelo Ministério de Recursos Humanos e Desenvolvimento Social e deveriam acolher mulheres entre 7 e 30 anos com histórico de comportamentos tidos como “problemáticos”. Mas, segundo a reportagem, muitas das internas não cometeram crimes, sendo enviadas por decisão de familiares por simples atos de rebeldia — como sair de casa sem permissão ou desafiar normas de vestimenta.

Tortura física, isolamento e vigilância constante

De acordo com testemunhos obtidos pelo The Guardian, as internas são submetidas a uma rotina de punições físicas regulares, exames forçados de virgindade, isolamento prolongado, confisco de celulares e proibição de se comunicarem entre si. Emoções também são reprimidas: algumas mulheres relataram ter sido punidas por chorarem.

As práticas de doutrinação religiosa são constantes e obrigatórias. A presença masculina é um elemento central: seguranças, médicos e psicólogos nas unidades são, em sua maioria, homens, o que agrava ainda mais o trauma das vítimas — especialmente aquelas que sofreram violência sexual.

Liberdade só com autorização de um “guardião”

Uma das características mais cruéis do sistema é que a libertação das internas depende do aval de um guardião masculino — geralmente um pai, irmão ou tio. Sem essa permissão, elas permanecem presas indefinidamente, mesmo após completarem 30 anos. Nessas situações, são transferidas para outra instituição, chamada Dar al-Dheyafa, onde só podem sair mediante um casamento arranjado.

Reforma limitada e controle persistente

Nos últimos anos, a Arábia Saudita tem promovido reformas de imagem, como permitir que mulheres dirijam, trabalhem em setores antes proibidos e viajem desacompanhadas. No entanto, a existência dos centros Dar al-Reaya contradiz essas mudanças e evidencia que o controle masculino sobre a liberdade feminina continua institucionalizado.

Organizações de direitos humanos e ativistas pedem o fechamento imediato dessas unidades, alegando que elas violam tratados internacionais e mantêm uma estrutura de repressão e vigilância estatal contra mulheres.

Enquanto o governo saudita insiste que as Dar al-Reaya oferecem proteção e apoio psicológico às internas, os relatos divulgados expõem um sistema opressor que encarcera mulheres por serem quem são — e por se recusarem a obedecer cegamente a regras patriarcais.

Com informações de The Guardian.

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