‘Rádios’ Solares com a Bíblia e Drones Cercam Indígenas Isolados no Javari
Uma nova e sofisticada tática de missionários evangélicos está ameaçando um dos últimos refúgios de povos indígenas isolados no planeta. No Vale do Javari, na fronteira do Brasil com o Peru, foram encontrados aparelhos de áudio movidos a energia solar que recitam mensagens bíblicas incessantemente. A descoberta representa uma grave violação da política de “não contato” do Estado brasileiro e um risco existencial para comunidades vulneráveis, como o povo Korubo.
Os sete dispositivos descobertos são autônomos: não dependem de energia elétrica ou de conexão com a internet, o que os torna ideais para a selva remota. Funcionando como “rádios” que transmitem conteúdo bíblico em português e espanhol, os equipamentos são uma forma de invasão silenciosa e persistente, projetada para contornar as barreiras físicas e legais que protegem os territórios indígenas isolados. Essa é uma violação direta da política de não contato do Brasil.
A Tecnologia a Serviço da Invasão Silenciosa
Investigações dos jornais O Globo e The Guardian revelaram que os aparelhos, chamados “Messenger”, são distribuídos pela organização batista norte-americana In Touch Ministries. O diretor de operações do grupo, Seth Grey, admitiu ter entregue pessoalmente 48 desses dispositivos aos Wai Wai na Amazônia em 2021, mas alegou que eles não levam os equipamentos a locais proibidos. No entanto, a presença dos “rádios” no Vale do Javari, lar do maior número de povos isolados do mundo, contradiz essa afirmação e expõe a natureza do proselitismo religioso que ignora a legislação.
A estratégia é clara: usar a tecnologia para manter uma presença constante nos territórios, na esperança de atrair e evangelizar membros dessas comunidades. Trata-se de uma forma de assédio que desrespeita a autodeterminação desses povos e os expõe a um bombardeio cultural e ideológico para o qual não pediram e contra o qual têm poucas defesas.
A Lei do “Não Contato”: Uma Barreira de Proteção Sob Ataque
Desde 1987, o Brasil adota a política de “não contato” como um pilar para a proteção dos povos indígenas isolados. A diretriz, consolidada pela Funai, determina que qualquer iniciativa de contato deve partir dos próprios indígenas. O objetivo é proteger essas comunidades de riscos externos fatais, principalmente doenças comuns como gripe ou sarampo, para as quais eles não possuem imunidade e que poderiam levar a um genocídio.
Com registros de 114 povos isolados no Brasil, dos quais 29 já foram confirmados, essa política é uma salvaguarda de direitos humanos fundamental. A ação dos missionários, portanto, não é apenas um ato de desobediência civil, mas um atentado contra a vida e a soberania dessas populações, colocando em risco décadas de políticas públicas construídas para garantir sua sobrevivência.
Para agravar a situação de cerco, drones também foram avistados sobrevoando a região. Embora não se saiba se pertencem a missionários, garimpeiros ou traficantes, sua presença reforça a sensação de vulnerabilidade e invasão. Este episódio se soma a um longo histórico de assédio, como o caso do missionário americano Andrew Tonkin, que em 2020 usou um hidroavião para mapear trilhas e invadir ilegalmente o território. A disputa no Vale do Javari não é apenas sobre terras ou crenças; é sobre o direito fundamental de um povo existir. Permitir que “rádios” divinas ou drones profanos ditem o futuro dos isolados seria assinar um atestado de falência da soberania nacional e da própria noção de humanidade.
Da redação do Movimento PB, com informações do UOL, O Globo e The Guardian
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