Relógios de Pulso Renascem como Símbolos de Estilo e Impulsionam o Varejo Brasileiro


Impulsionados pela busca por expressão pessoal e status, modelos tradicionais e tecnológicos aquecem o mercado e conquistam novos públicos.

O tempo parece não ter passado para um acessório que, outrora apenas funcional, hoje é um ícone de estilo e status. O mercado de relógios de pulso no Brasil atravessa uma fase de forte expansão: nos dois primeiros meses de 2025, o setor registrou um crescimento de 42% no faturamento em comparação ao mesmo período do ano anterior. De 2020 a 2024, o faturamento anual saltou de 950 milhões para 1,4 bilhão de reais, evidenciando uma tendência sólida e crescente.

A surpresa é geral até mesmo entre executivos veteranos do setor. Renato Balbi, presidente da Monte Carlo Joias, rede de cinquenta lojas espalhadas pelo país, afirma que o aumento não foi antecipado. “A morte dos relógios tradicionais já foi anunciada diversas vezes. No entanto, estamos expandindo nossas vitrines e investindo em maior capacidade produtiva”, destaca o executivo.

De ferramenta a objeto de desejo

Especialistas apontam que a chave para esse ressurgimento está na mudança do perfil dos consumidores. Para Joaquim Ribeiro, presidente da fabricante Technos, o relógio passou a ser visto não apenas como instrumento de medição do tempo, mas como uma peça aspiracional. “Hoje, muitos adquirem nossos produtos para compor o visual ou como símbolo de status. Além disso, cresce o interesse de colecionadores que valorizam a complexidade dos mecanismos e a qualidade dos materiais”, explica Ribeiro.

Somente no último trimestre de 2024, a Technos viu sua receita líquida crescer 24%, refletindo a demanda consistente por seus produtos.

Outro fator que contribuiu para essa transformação foi a alta no preço de metais preciosos como ouro e prata, que impactou a venda de joias. Com isso, joalherias passaram a intensificar a promoção dos relógios, especialmente entre o público masculino, que muitas vezes substitui a joia por um relógio sofisticado.

Tradição que atravessa séculos

O fascínio pelos relógios tradicionais não é novidade. Historiadores atribuem o surgimento do primeiro modelo de pulso a 1814, quando Abraham Louis Breguet criou uma peça exclusiva para Carolina Murat, irmã de Napoleão Bonaparte. Desde então, o acessório ganhou destaque em momentos históricos, como na parceria entre o aviador brasileiro Santos Dumont e o joalheiro Louis Cartier, que resultou em um dos primeiros relógios de pulso masculinos.

Hoje, a tradição se reinventa com a ajuda de influenciadores digitais, que divulgam análises detalhadas de modelos clássicos e modernos, atraindo uma geração jovem para o universo da relojoaria.

Smartwatches mantêm seu espaço

Embora o renascimento dos relógios tradicionais seja notável, o segmento de smartwatches também continua a expandir seu território. Segundo a consultoria Nielsen IQ GfK, em 2024, o faturamento dessa categoria cresceu 9%, com aumento de 37% no volume de vendas em comparação a 2023.

A Samsung, uma das líderes do mercado, aposta na integração entre tecnologia e saúde como diferencial competitivo. “Nossos relógios monitoram desde a frequência cardíaca até o VO2 máximo, oferecendo dados valiosos para o bem-estar dos usuários”, afirma Rodrigo Rossi, gerente-sênior do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa no Brasil.

Resistência ao tempo

Seja no formato analógico ou digital, os relógios provam que ainda desempenham um papel importante na vida moderna. Em um mundo cada vez mais digitalizado, eles resistem — como ícones de tradição, inovação e estilo pessoal.

O tempo, ao que tudo indica, ainda é muito generoso para quem carrega no pulso mais do que apenas horas.


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