Robotaxis: A Caminho do Futuro em Grandes Cidades Chinesas

Tecnologia de veículos autônomos avança na China, apesar de preocupações com segurança e impacto no mercado de trabalho.


Veículos autônomos, que antes pareciam elementos de ficção científica, estão cada vez mais presentes nas ruas de grandes cidades chinesas, superando desafios e incertezas ao entrarem no cotidiano dos moradores.

Essa tecnologia em rápida evolução ganhou destaque na China há quase uma década. Em 2015, a montadora sueca Volvo organizou um teste de veículos sem motorista a 70 km/h no Sexto Anel Viário de Pequim. Já a gigante chinesa de tecnologia Baidu estabeleceu seu grupo de condução inteligente em 2017, apresentando o plano Apollo de direção autônoma no mesmo ano. Outro grande nome do setor, a Pony.ai, fundada por ex-engenheiros da Baidu, criou seu primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento de direção autônoma em 2016.

Até fevereiro deste ano, mais de 20 cidades já tinham políticas de apoio a testes de direção autônoma, emitindo licenças para mais de 60 empresas. No entanto, o progresso, que vinha sendo relativamente tranquilo, sofreu um revés em julho, quando um vídeo viralizou nas redes sociais mostrando um veículo autônomo do Apollo Go, da Baidu, colidindo com uma scooter em Wuhan, capital da província de Hubei.

A Baidu rapidamente esclareceu que o acidente ocorreu porque o motorista da scooter ultrapassou o sinal vermelho quando o veículo autônomo começou a se mover. Embora o incidente tenha sido leve, como mostrado nas imagens, ele gerou reclamações de motoristas e moradores locais.

A frota de veículos autônomos Apollo Go, chamada de Luobo Kuaipao em chinês (literalmente “robôs correm rápido”), ganhou o apelido de “robôs burros” em Wuhan, à medida que mais vídeos surgiam mostrando situações embaraçosas envolvendo os veículos, como um carro parando no meio da rua devido a uma sacola plástica, causando um congestionamento.

Questões de segurança

A segurança é uma das principais preocupações. Após o incidente em Wuhan, os moradores locais começaram a questionar a confiabilidade dos veículos autônomos, apesar das alegações dos fabricantes de que eles são mais seguros do que motoristas humanos. Em maio, o vice-presidente da Baidu, Wang Yunpeng, afirmou que o número de sinistros de seguros envolvendo os veículos Apollo Go nos últimos dois anos era apenas um décimo quarto do que ocorre com motoristas humanos.

Somente no segundo trimestre deste ano, a Apollo Go forneceu cerca de 899 mil corridas para passageiros, um aumento de 26% em comparação com o ano anterior. A Baidu também revelou que, até 28 de julho, o número acumulado de corridas fornecidas pela Apollo Go ao público ultrapassou 7 milhões.

Apesar das estatísticas de segurança favoráveis, os veículos autônomos ainda enfrentam desafios. Por exemplo, em caso de acidente, o atendimento imediato a um passageiro ferido ou a um pedestre pode ser comprometido, já que é necessário aguardar a chegada de um operador da frota ao local. Em casos mais graves, como acidentes que resultam em morte ou lesões, a responsabilidade legal permanece uma área nebulosa. Não está claro se o engenheiro de software, o CEO ou outro responsável da empresa seria responsabilizado judicialmente.

Impacto no mercado de trabalho

Outro ponto de discórdia envolve os taxistas, que têm reclamado que as empresas de robotáxis estão roubando seus clientes ao oferecer grandes descontos. Em um exemplo recente, uma viagem de 28 km e 64 minutos em Wuhan custou apenas 26,52 yuan (cerca de US$ 3,65), muito mais barato do que uma corrida de táxi comum, devido a um desconto de 109,52 yuan.

Wuhan possui mais de 3.300 km de estradas habilitadas para robotáxis, o que faz da cidade a mais preparada na China para esse tipo de veículo. No primeiro semestre deste ano, os robotáxis registraram 850 mil corridas, superando o número total de 2023, segundo o jornal Hubei Daily.

Embora os robotáxis ainda representem uma pequena fração da frota de táxis em Wuhan, alguns motoristas tradicionais temem pela perda de seus empregos. William Li, fundador e CEO da startup Nio, se solidarizou com os taxistas, afirmando que o objetivo da tecnologia de direção inteligente deve ser aliviar o fardo dos motoristas, e não tomar seus empregos. “Nunca faremos robotáxis”, disse Li.

Desafios e futuro dos robotáxis

Ainda que enfrentem problemas iniciais, especialistas acreditam que os robotáxis se tornarão viáveis comercialmente em breve. Segundo a Baidu, a combinação de redução nos custos de hardware e aumento de pedidos deverá tornar o Apollo Go lucrativo até 2025. A Pony.ai, por sua vez, planeja expandir sua frota de robotáxis em até dez vezes em algumas cidades até 2026.

Porém, os analistas destacam que, enquanto os robotáxis e motoristas humanos compartilharem as ruas, a redução de congestionamentos e a eliminação de acidentes não será uma realidade. Embora os veículos autônomos sigam rigorosamente as regras de trânsito, os motoristas humanos nem sempre fazem o mesmo.

Zhang Xiang, analista automotivo da Universidade de Tecnologia do Norte da China, estima que levará pelo menos 10 anos para que as operações comerciais em larga escala de robotáxis se tornem realidade. Até lá, esses veículos continuam a atrair clientes interessados na experiência, mas que não têm pressa.

Investimento e crescimento mundial

Empresas de robotáxis na China continuam a atrair investimentos significativos. Desde 2017, a Pony.ai levantou mais de US$ 1,4 bilhão de investidores nacionais e estrangeiros, sendo avaliada em US$ 8,5 bilhões no final do ano passado. Outras empresas, como a WeRide, baseada em Guangzhou, também estão se preparando para ofertas públicas iniciais (IPO), buscando aumentar sua participação no crescente mercado de veículos autônomos.

De acordo com a consultoria McKinsey & Company, a China está posicionada para se tornar o maior mercado mundial de veículos autônomos, com receita superior a US$ 500 bilhões até 2030. A BloombergNEF estima que a China operará uma frota de cerca de 12 milhões de veículos autônomos até 2040, seguida pelos Estados Unidos com cerca de 7 milhões.


Texto adaptado de China Daily

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