Subir juros agora é como “tomar remédio antes de ficar doente”, avalia ex-diretor do BC
Luiz Fernando Figueiredo aponta que dados não preocupam e que este é um momento para Banco Central esperar
“A gente não deveria tomar remédio antes de fato ficar doente”, comenta à CNN o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Luiz Fernando Figueiredo, comparando a atitude precipitada a uma potencial alta da taxa Selic na próxima reunião da autarquia, entre os dias 17 e 18 deste mês.
“Não é o momento, porque quando se faz a análise dos próprios modelos do Banco Central, da reunião passada para cá, nos traz uma inflação um pouco mais baixa do que se calculava antes”, avalia Figueiredo.
O Banco Central trabalha com o que chama de horizonte relevante para a política monetária. Isso é, um período de 18 meses à frente — sendo hoje os primeiros três meses de 2026 — no qual se projeta a inflação.
O resultado desse cálculo é usado como um dos parâmetros para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
O tal modelo de cálculo citado pelo ex-diretor do BC considera a inflação corrente, as expectativas do mercado, o câmbio e a folga que a economia tem em relação a pressões — como mercado de trabalho, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o nível dos juros —, o que é chamado de hiato.
Na última reunião do Copom, que mais uma vez manteve a Selic em 10,5% ao ano, o colegiado estimou a inflação para o período entre 3,2% e 3,4%. A Jive Mauá Investimentos, onde Figueiredo é presidente do conselho, calcula que do final de julho para cá, a estimativa caiu para 3,13%.
“O modelo mostrando um resultado mais próximo da meta, não faz sentido [subir os juros]. Reconheço que temos uma atividade forte, desemprego baixo, aqui e ali vemos um pouco de pressão em preços, mas o modelo não nos diz que precisamos subir”, comenta o ex-BC.
“Mesmo com o PIB recente, mais forte, e recalculando o hiato mais apertado, temos uma taxa de inflação nesse horizonte relevante mais baixa que a anterior”, conclui.
Para Figueiredo, este seria o momento para esperar. Mas ele avalia que declarações recentes dos diretores do BC favorecem as apostas do mercado.
“O que vai contra é que de fato os diretores foram muito duros, dizendo que a situação está assimétrica”, pontua o economista.
Ele indica que até o posicionamento de Gabriel Galípolo, diretor indicado pelo governo para a presidência da autarquia, tem sido mais duro do que o atual presidente, Roberto Campos Neto, o que teria sustentado as previsões do mercado.
Culpados pelos juros elevados
Primeiramente, Figueiredo reforça que o país tem por natureza uma taxa de juros neutra — aquela que nem estimula e nem segura a economia — elevada. Isso por conta de incertezas na economia e um histórico de gastos elevados.
A inflação também é pressionada por essas variáveis, então quando o BC precisa subir os juros para contê-la, eles são elevados a níveis muito altos.
E entre as principais incertezas recentes apontadas pelo ex-BC estão a questão fiscal e as tensões do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, contra o Banco Central e sua política de juros.
A política fiscal expansionista – aquela que promove gastos públicos elevados – é vista por Figueiredo como um “tiro no pé” do governo.
“Antes do governo ter toda essa atitude de ruído do lado fiscal e contra o Banco Central, [os juros] estavam indo para o caminho de um dígito [no final de 2024]. Mas o juro fica mais alto com confusão, com incerteza”, diz à CNN.
“A taxa de juros nunca é causa das coisas, é sempre consequência. O Banco Central tenta calibrar os juros para que a inflação não seja alta. Então, o juro pode ficar mais baixo mais para frente, mas isso dependendo do governo ter uma política fiscal sustentável”.
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