Internacional

300 dias nas ruas: A incansável luta da Geórgia pela democracia e por um futuro europeu

300 dias nas ruas: A incansável luta da Geórgia pela democracia e por um futuro europeu

Enquanto manifestantes celebram marco de resistência contra um governo pró-Rússia, o poder aposta no cansaço do movimento e intensifica a repressão, em um teste de resistência para a sociedade civil.

Nesta terça-feira, 23 de setembro, a luta pela democracia na Geórgia atinge um marco poderoso e agridoce: há exatamente 300 dias, manifestantes pró-europeus se reúnem ininterruptamente em frente ao Parlamento na capital, Tbilisi. O objetivo é denunciar o que consideram uma perigosa deriva autoritária do regime e reconduzir o país ao caminho da integração com a União Europeia. A resiliência é notável, mas o desgaste de quase um ano de protestos diários já é visível.

Mariam, uma jovem de 23 anos que participa dos atos desde o primeiro dia, personifica o sentimento do movimento. “Isso mostra a resistência e a força do nosso movimento, não vamos parar de lutar”, afirma, combativa. “O governo, que é responsável por esta crise, pensava que os protestos não durariam mais de um mês, mas ainda estamos aqui”. No entanto, ela admite o peso do tempo: “Às vezes, pensamos que já se passaram 300 dias que ocupamos as ruas e nada muda”.

A crise eclodiu em 28 de novembro do ano passado, quando o primeiro-ministro Irakli Kobakhidze anunciou o congelamento das negociações de adesão à União Europeia, levando dezenas de milhares de pessoas às ruas. Hoje, a poucos dias de eleições municipais que são boicotadas pela oposição, a raiva persiste, mas as multidões diminuíram. O governo do partido “Sonho Georgiano”, visto como alinhado à Rússia, aposta claramente no esgotamento dos manifestantes.

Enquanto o movimento perde fôlego, a repressão se intensifica. Na semana passada, mais dois líderes da oposição foram presos, elevando para cerca de uma dezena o número de opositores detidos. Além deles, 35 manifestantes também estão na prisão. É uma estratégia de asfixia lenta e calculada. “O Sonho Georgiano espera talvez organizar novas eleições uma vez que a oposição esteja praticamente destruída”, analisa Davit Jintcharadze, pesquisador em ciências políticas e cofundador do partido de oposição Praça da Liberdade.

O objetivo do governo, segundo o pesquisador, seria garantir uma maioria constitucional para cimentar seu poder autoritário. Diante desse cenário, parte da esperança dos manifestantes se volta para a pressão externa. “As sanções europeias são particularmente eficazes para provar aos georgianos que a UE não os esquece”, afirma Jintcharadze. No entanto, ele pondera que “sancionar sem uma resistência civil real não é suficiente para criar uma mudança de regime”.

O impasse se aprofunda no cenário internacional. Um pacote de sanções da União Europeia contra o governo georgiano está, por enquanto, bloqueado em Bruxelas. A Hungria e a Eslováquia, países com governos próximos a Moscou, estão usando seu poder de veto para impedir a medida. A luta da Geórgia, portanto, tornou-se um microcosmo da disputa geopolítica mais ampla entre a Europa e a Rússia, com os cidadãos nas ruas de Tbilisi sentindo na pele o peso de um jogo de poder que acontece muito acima de suas cabeças.

Traduzido e adaptado da RFI (Radio France Internationale)

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-23092025-X5Y1Z7-15P]


Descubra mais sobre Movimento PB

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.