‘A Ansiedade é Palpável’: Detenção de Pesquisadores na Fronteira dos EUA Gera Preocupação com Viagens

Uma onda de restrições imigratórias nos Estados Unidos está abalando a comunidade científica global. Casos de detenções e deportações de acadêmicos têm gerado temores entre pesquisadores estrangeiros, mesmo aqueles com documentos de entrada válidos, enquanto cientistas não cidadãos baseados nos EUA hesitam em deixar o país, com medo de não conseguirem voltar.

“A ansiedade é palpável”, diz Jonathan Grode, sócio-gerente do escritório de advocacia de imigração Green and Spiegel, na Filadélfia. Ele relata receber ao menos 20 ligações diárias de clientes perguntando se é seguro viajar, refletindo o clima de incerteza desde o início do segundo mandato do presidente Donald Trump, em janeiro de 2025, que prometeu endurecer a segurança nas fronteiras.

Casos de Destaque

Nos últimos 30 dias, incidentes envolvendo acadêmicos intensificaram as preocupações. Um especialista em transplantes renais da Brown University, em Rhode Island, foi deportado para o Líbano ao tentar reentrar nos EUA com um visto válido. Reportagens posteriores indicaram que fotos em seu celular o vinculavam ao Hezbollah, classificado como organização terrorista pelos EUA.

Outro caso envolveu um cientista planetário francês, colaborador da NASA em estudos sobre Marte, que foi detido e expulso ao chegar para uma conferência perto de Houston, Texas, em março. O governo francês afirma que a expulsão ocorreu após autoridades encontrarem mensagens em seus dispositivos expressando uma “opinião pessoal” sobre políticas de pesquisa americanas. O Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) alega que ele portava informações confidenciais de um laboratório nacional, violando um acordo de confidencialidade, e nega que a decisão tenha motivação política.

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Andrea Liu, física da Universidade da Pensilvânia, ficou chocada com o caso do francês: “Se você quer vir fazer ciência, melhor trazer um celular descartável e um laptop vazio para evitar problemas.”

Regras e Riscos

Carolina Regales, advogada da Klasko Immigration Law Partners, explica que agentes de fronteira dos EUA têm o direito de revistar celulares e laptops de qualquer pessoa, inclusive cidadãos. Desde 2019, solicitantes de visto devem informar seus nomes de usuário em redes sociais, embora mensagens nessas plataformas raramente tenham sido usadas para barrar entradas — até agora.

Grode ressalta que a maioria dos viajantes não precisa se preocupar. Centenas de milhares entram nos EUA mensalmente sem incidentes. No entanto, ele alerta que registros imperfeitos, como vistos expirados ou pequenos problemas legais no passado, podem ser motivo de recusa na gestão atual, que adota uma postura “o mais rígida possível”.

Medo entre Pesquisadores

A preocupação é maior entre cientistas que se sentem alvos das políticas de Trump, como as que criticam direitos transgênero, programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) ou pesquisas sobre mudanças climáticas e desinformação. Uma geofísica canadense, que pediu anonimato por segurança, está repensando uma viagem aos EUA em maio para colaborar em campo. Mulher trans, ela teme que dados de visitas anteriores, quando usava outro nome, possam ser usados contra ela. “No clima político atual, qualquer inconsistência parece ser motivo para ação imediata”, diz.

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Impacto na Ciência

As restrições ameaçam a colaboração internacional, essencial para a pesquisa. Com Trump assinando uma ordem executiva em 20 de janeiro de 2025 para “vetar e rastrear ao máximo” viajantes estrangeiros, a comunidade científica teme um isolamento dos EUA, prejudicando conferências, intercâmbios e avanços conjuntos.


Com informações de Neture

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