Internacional

A Dependência Crítica: Como a China Venceu a Guerra dos Metais Raros e Deixou o Ocidente para Trás

A Crônica de uma Derrota Anunciada

A recente decisão da China de controlar as exportações de metais raros, uma resposta direta ao regime de tarifas de Donald Trump, não é apenas mais um capítulo na guerra comercial. É a exposição de uma vulnerabilidade estratégica que o próprio Ocidente, não a China, criou através de décadas de negligência. A liderança tecnológica, a prontidão militar e as ambições de energia limpa dos Estados Unidos dependem desses materiais, e a atual interrupção na cadeia de suprimentos revela a profundidade do problema.

Este filme já foi visto antes. Em 2010, após um conflito marítimo, a China suspendeu as exportações de terras raras para o Japão. Tóquio investiu massivamente em reciclagem, mineração alternativa e substituição de materiais, mas aprendeu uma dura lição: a liderança chinesa, construída sobre fornecimento barato, de alta qualidade e em larga escala, era praticamente inabalável. Qualquer material produzido fora da China custaria mais caro.

O Segredo Chinês: Política Industrial e Visão de Longo Prazo

O domínio chinês não foi um acidente; resultou de três décadas de política industrial dedicada e compromisso estratégico. Há mais de 30 anos, a China importou a tecnologia de processamento desenvolvida nos EUA e na Europa. No início, a qualidade era questionável. Contudo, através de experimentação contínua e refinamento incremental, as empresas chinesas dominaram as técnicas, adaptando-as à sua realidade. Elas inovaram, por exemplo, usando ácido clorídrico em infraestrutura de baixo custo como PVC, evitando o caro aço inoxidável exigido nos processos ocidentais.

O objetivo nunca foi a riqueza dos minerais em si — o mercado de terras raras é comparativamente pequeno. A China enxergou esses materiais como a base para suas ambições de alta tecnologia: de veículos elétricos e turbinas eólicas a sistemas de orientação de mísseis. Ao dominar a produção, a China também se tornou a maior consumidora, criando um ecossistema onde a proximidade entre processadores e fabricantes acelerou a inovação. Eles não são apenas o maior jogador no mercado — eles são o mercado.

O Desprezo Ocidental: Terceirização e Perda de Conhecimento

Enquanto a China investia, o Ocidente via a metalurgia como uma indústria suja, pronta para ser terceirizada. A mineração, que gera resíduos e elementos radioativos, era uma venda difícil para comunidades locais, levando a legislações restritivas. Não importava que esses recursos alimentariam a transição verde ou a próxima geração de armamentos. O resultado foi o desmantelamento de uma indústria inteira. A expertise foi perdida.

A situação é comparada a de um filho de imigrantes que nunca aprendeu a língua dos pais, porque ela simplesmente não foi transmitida. Hoje, a China possui quase 80 universidades especializadas em metalurgia extrativa e processamento de minerais. Nos Estados Unidos, esse número é zero. Essa lacuna de conhecimento torna a reconstrução da capacidade industrial ainda mais lenta e cara.

É Possível Sair da Dependência?

O cenário atual é sombrio. A MP Materials, única mina de terras raras da América, enviava mais de 80% de sua produção para a China por falta de capacidade de processamento doméstico. Com as novas tarifas, a empresa perdeu seu principal mercado. No entanto, nem tudo está perdido. A oportunidade do Ocidente não está na replicação, mas na reinvenção, criando cadeias de suprimentos mais limpas e eficientes.

Mas a tecnologia por si só não resolverá o desafio. É preciso investir em pessoas. Com menos de 700 estudantes em áreas de mineração nos EUA, o país enfrenta um alerta crítico. É necessário revitalizar programas educacionais, investir em regulação inteligente e, crucialmente, fortalecer alianças internacionais baseadas em transparência e benefícios mútuos. Se o Ocidente não agir logo para reconstruir sua capacidade industrial através de educação, investimento e política estratégica, estará cedendo as ferramentas do poder econômico e militar moderno para aqueles que nunca pararam de construí-las.

Da redação com informações de agências internacionais

Redação do Movimento PB [GME-GOO-01082025-2324-15P]

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