Os Estados Unidos e a Ucrânia avançam em um acordo para a exploração dos recursos minerais ucranianos, considerados estratégicos para setores como tecnologia e energia nuclear.
A Ucrânia finalizou os termos de um acordo com os Estados Unidos para a exploração de suas reservas minerais. O presidente Volodymyr Zelensky pode assinar o documento na próxima sexta-feira (28), em Washington. O país possui cerca de 5% dos recursos minerais do mundo, embora muitos ainda não sejam explorados comercialmente.
Interesses estratégicos dos EUA
O republicano Donald Trump, que negocia diretamente o pacto, defende que a Ucrânia conceda acesso aos seus minerais, alguns considerados essenciais para novas tecnologias e a indústria nuclear. Para ele, essa concessão serviria como forma de compensação pelos bilhões de dólares que Kiev recebeu dos EUA para enfrentar a invasão russa durante o governo Biden.
“Ouvi dizer que ele vem na sexta-feira. Isso certamente está OK para mim. Ele gostaria de assinar comigo, e eu entendo que é um grande negócio, um grande negócio”, afirmou Trump na Casa Branca.
Autoridades ucranianas confirmaram que os americanos removeram cláusulas que não interessavam ao país, incluindo a exigência de que US$ 500 bilhões dos lucros com os minerais fossem direcionados aos EUA. Segundo fontes próximas às negociações, o acordo prevê a criação de um fundo de investimentos conjunto, com recursos provenientes da exploração comercial dos minerais ucranianos. Parte desse montante seria destinada à reconstrução da infraestrutura do país e ao reembolso dos gastos militares dos EUA na guerra.
Zelensky aposta em um acordo flexível
O presidente ucraniano descreveu o documento como um “acordo-quadro”, que poderá evoluir dependendo das conversas com Trump. “Este compromisso pode ser um grande sucesso ou simplesmente desaparecer”, declarou Zelensky, reforçando que sua prioridade é garantir que os EUA continuem apoiando a Ucrânia.
Apesar da relevância econômica do acordo, ele não prevê cláusulas de segurança para a Ucrânia no contexto da guerra contra a Rússia. Autoridades ucranianas, no entanto, afirmam que continuarão negociando garantias de proteção com Washington.
Potencial mineral da Ucrânia
A Ucrânia ocupa o 40º lugar entre os maiores produtores de minerais do mundo, segundo o World Mining Data 2024. O país possui mais de 100 tipos de recursos naturais catalogados, incluindo ferro, manganês e urânio. Em 2022, foi o 10º maior produtor global de ferro.
O território ucraniano abriga minerais classificados como críticos para a economia e a transição energética, sendo uma possível fonte de mais de 20 matérias-primas essenciais, segundo a Comissão Europeia. Entre eles estão manganês, titânio e grafite, fundamentais para setores como baterias elétricas e siderurgia. O governo ucraniano também afirma ter uma das maiores reservas de lítio da Europa, ainda inexploradas.
As terras raras, um grupo de 17 metais usados em eletrônicos e turbinas eólicas, são citadas como de interesse por Trump, mas, segundo especialistas, não são exploradas comercialmente na Ucrânia. “O desenvolvimento industrial e a pesquisa adicional exigem investimentos significativos”, aponta um estudo do Escritório Francês de Pesquisa Geológica e Mineração.
Reação da Europa e impacto geopolítico
Antes da possível assinatura do acordo, os líderes dos 27 países da União Europeia realizam uma reunião virtual para avaliar os desdobramentos das negociações. França e Reino Unido propõem o envio de uma força militar europeia à Ucrânia caso um cessar-fogo com a Rússia seja estabelecido. A Rússia, no entanto, rejeita qualquer presença de tropas europeias em território ucraniano.
Na segunda-feira (24), o presidente francês Emmanuel Macron tentou influenciar a posição americana para incluir garantias de segurança à Ucrânia, mas Trump não assumiu compromissos concretos. A recente aproximação entre Trump e Vladimir Putin, consolidada na ONU, preocupa os líderes europeus. Na última votação no Conselho de Segurança, EUA e Rússia aprovaram conjuntamente uma resolução pelo fim da guerra, sem mencionar a invasão russa ou a soberania territorial ucraniana.
Intensificação dos ataques russos
Enquanto as negociações avançam, a Rússia segue com ofensivas na Ucrânia. Um ataque de drones na região de Kiev deixou pelo menos um morto e quatro feridos. Na Crimeia, anexada por Moscou, e em regiões russas próximas à fronteira ucraniana, a defesa russa informou ter derrubado 128 drones enviados por Kiev.
O cenário diplomático e militar se mantém volátil, com a Ucrânia tentando equilibrar interesses econômicos, apoio ocidental e sua segurança territorial em meio à guerra.
Texto adaptado de RFI e AFP, revisado pela nossa redação.