Internacional

Ataques de drones, mudança de regime: quais operações a CIA pode realizar na Venezuela?

Presidente dos EUA tem poder de aprovar ações secretas sem aval do Congresso, um mecanismo com histórico controverso na América Latina.

O presidente Donald Trump detém o poder de aprovar uma ampla gama de operações clandestinas que a Casa Branca considere favoráveis à segurança nacional. Essas autorizações, conhecidas tecnicamente como “descobertas presidenciais” (presidential findings), já levaram no passado a ataques de drones, financiamento de grupos insurgentes e até esforços diretos para mudança de regime em outros países.

Segundo a lei americana, presidentes podem autorizar ações secretas se as operações forem “necessárias para apoiar objetivos identificáveis de política externa que sejam importantes para a segurança nacional dos EUA”. Embora os comitês de inteligência do Senado e da Câmara devam ser notificados, essa notificação não significa que a aprovação do Congresso seja necessária. Na prática, o Congresso só pode bloquear tais operações por meio de legislação específica ou cortando o financiamento.

A autorização pode ser tão específica ou tão ampla quanto o presidente considerar. “Os parâmetros que as autoridades têm são estabelecidos na autorização”, explicou Mick Mulroy, ex-agente da CIA, à BBC. “Mas não há realmente nenhuma limitação e não requer aprovação do Congresso”, acrescentou. Quaisquer restrições são feitas por decretos executivos, que, segundo Mulroy, “o presidente pode simplesmente redigir um novo decreto executivo e alterá-lo”.

Um “caminho perigoso” na América Latina

Uma vez aprovadas, as ações da CIA podem variar de assassinatos seletivos a operações para influenciar a política local. Em 1979, Jimmy Carter permitiu que a CIA financiasse guerrilheiros afegãos contra a invasão soviética. Anos depois, Ronald Reagan autorizou ajuda secreta aos Contras, rebeldes que tentavam derrubar o governo sandinista na Nicarágua. Mais recentemente, foram reveladas operações globais contra a Al-Qaeda e a Operação Timber Sycamore, que apoiou rebeldes sírios contra o regime de Assad.

Em outros países latino-americanos — incluindo Guatemala, Chile e o próprio Brasil — os EUA ajudaram a derrubar governos em sua luta contra o comunismo ou promoveram governos opressores. “Não temos um histórico muito admirável”, disse Dexter Ingram, ex-diretor do Departamento de Estado, à BBC. “Há uma longa história, e nem sempre é positiva. Acho que temos que olhar para a nossa história: é um caminho muito perigoso”, alertou.

O caso Venezuela: drogas e “guerra ao terror”

Não está claro se a CIA já está realizando operações secretas na Venezuela, planejando-as ou apenas mantendo-as como contingência. No início desta semana, Trump justificou a autorização à CIA e os bombardeios de navios no Mar do Caribe, apontando que “grandes quantidades de drogas” estão circulando da Venezuela para os EUA.

Suspeitos de integrar o Tren de Aragua e o Cartel dos Sóis, organizações designadas pelos EUA como terroristas, poderiam ser alvos de operações paramilitares ou drones. Marc Polymeropoulos, veterano de 26 anos da CIA, disse à BBC que a metodologia “encontrar, consertar e acabar” (find, fix, finish), desenvolvida durante a “guerra global contra o terror”, poderia ser facilmente aplicada a essas redes criminosas.

Traduzido pela redação do Movimento PB, com informações da BBC [MNG-OOG-19102025-0047-3B8E1A9-V018]