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Caça às bruxas em Gaza: Hamas retoma controle com expurgos violentos e desafia plano de paz de Trump

Caça às bruxas em Gaza: Hamas retoma controle com expurgos violentos e desafia plano de paz de Trump

Enquanto Israel se retira, grupo reafirma poder com execuções de ‘colaboradores’ e confrontos com clãs rivais, expondo o vácuo de poder e a fragilidade de um cessar-fogo que pode ter chegado tarde demais.

O cessar-fogo em Gaza, que deveria inaugurar um período de paz e reconstrução, está dando lugar a um novo e aterrorizante capítulo de violência interna. Com a retirada das tropas israelenses de partes do território, o Hamas está reafirmando seu controle de forma brutal e implacável. Longe de se preparar para uma transição pacífica, o grupo iniciou uma verdadeira “caça às bruxas”, prendendo, espancando e executando supostos “colaboradores” e confrontando clãs rivais que ousaram desafiar sua autoridade durante a guerra. As cenas de violência que emergem de Gaza pintam um quadro sombrio e desafiam diretamente o plano de paz mediado pelos Estados Unidos.

As forças de segurança do Hamas voltaram às ruas da Cidade de Gaza neste fim de semana, não para manter a ordem, mas para impor sua lei. Canais de comunicação afiliados ao grupo anunciaram uma “campanha em larga escala” para prender informantes, com vídeos circulando no Telegram mostrando supostos colaboradores sendo espancados. A mensagem é clara: qualquer um que tenha cooperado com Israel ou se oposto ao Hamas durante o conflito pagará o preço. O Ministério do Interior, controlado pelo grupo, chegou a declarar uma “anistia” para criminosos comuns, uma tática para cooptar apoio e isolar seus rivais políticos.

A reafirmação do poder não tem sido pacífica. Confrontos violentos eclodiram entre as forças do Hamas e famílias influentes, como o clã Dughmush, resultando em mortes, incluindo a do filho de um alto comandante militar do Hamas. No sul de Gaza, um grupo de oposição chamado Forças Populares, que chegou a receber proteção do exército israelense e auxiliou na distribuição de ajuda humanitária, recusa-se a depor as armas. Seu comandante, em um ato de desafio, declarou no Facebook: “A todos os ratos do Hamas, seus túneis foram destruídos… não há Hamas a partir de hoje”.

O frágil plano de paz e o vácuo de poder

A violenta retomada de controle pelo Hamas colide frontalmente com o plano de paz de 20 pontos proposto pelo presidente americano Donald Trump. O acordo prevê anistia para os membros do Hamas que se desarmarem e aceitarem a “coexistência pacífica”. No lugar do grupo, seria enviada uma Força Internacional de Estabilização (ISF) para treinar uma nova força policial palestina. O problema é que, na realidade caótica de Gaza, a implementação de tal força pode levar meses, se não anos, um tempo que o Hamas está usando para consolidar seu poder de forma irreversível.

A situação atual expõe o principal dilema do pós-guerra: quem vai policiar Gaza? O think tank britânico Chatham House já alertou para os “formidáveis” desafios logísticos e de coordenação de uma força multinacional. Com a polícia local desmantelada durante os dois anos de conflito, a segurança se deteriorou, e o vácuo de poder está sendo preenchido da forma mais brutal possível. As ações do Hamas não são apenas uma disputa interna; são uma declaração de que o grupo não tem a menor intenção de entregar o controle do território.

Enquanto a comunidade internacional debate os detalhes de uma transição complexa e demorada, o Hamas age com a velocidade e a crueldade da política real. A “caça aos colaboradores” é uma tática clássica de regimes autoritários para eliminar a oposição e solidificar o poder após um período de instabilidade. A paz assinada em Washington pode ter acabado com a guerra contra Israel, mas parece ter dado início a uma nova e sangrenta guerra civil pelo futuro de uma Gaza devastada.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-13102025-E9F1A2-13P]