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Capacidade militar da Venezuela frente a possível ataque dos EUA é limitada e desgastada

Capacidade militar da Venezuela frente a possível ataque dos EUA é limitada e desgastada

A Venezuela possui capacidade militar limitada e desgastada para resistir a um eventual ataque dos EUA, apostando em guerra de guerrilhas.

O deslocamento do porta-aviões USS Gerald R. Ford às proximidades da Venezuela marca uma das maiores presenças militares americanas na América Latina desde a invasão do Panamá, em 1989. Esse movimento reacende tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, sobretudo com o governo de Nicolás Maduro, acusado por Washington de envolvimento com o tráfico de drogas, acusação que rejeita. Em resposta, o governo venezuelano revelou uma mobilização maciça de tropas e milícias em uma tentativa de neutralizar o que considera uma ameaça direta.

Estrutura militar atual da Venezuela

Segundo levantamento do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, a Venezuela possui cerca de 123 mil soldados ativos, 220 mil milicianos e 8 mil reservistas. Contudo, especialistas como James Story, ex-embaixador dos EUA para questões da Venezuela, destacam que este contingente está longe de operar em plena capacidade. Muitos militares não realizam treinamentos regulares e enfrentam altos índices de deserção, enquanto parte das milícias chavistas sequer estão armadas.

Legenda da foto, Caminhão do exército venezuelano, transportando lançadores de mísseis russos, participa de um desfile militar em comemoração ao Dia da Independência do país, em Caracas, em 5 de julho de 2025

Apesar disso, o país conta com equipamentos militares avançados, incluindo cerca de 20 aviões Sukhoi adquiridos da Rússia e algumas unidades reduzidas de F-16 da época em que mantinha aliança com os Estados Unidos. Além disso, sistemas antiaéreos portáteis Igla-S, lançadores Pantsir-S1, Buk-M2E, drones armados de fabricação nacional e lanchas rápidas iranianas adicionam certo poder dissuasório, ainda que muitas destas tecnologias possam não estar plenamente operacionais.

Limitações e desafios operacionais

Uma análise cautelosa realizada por especialistas em defesa indica que grande parte dos sistemas antiaéreos venezuelanos, como os Pechora, baseados em tecnologia dos anos 1960, apresentam baixa disponibilidade e poderiam ser neutralizados com relativa facilidade por forças americanas superiormente equipadas. Ainda que haja cerca de 5 mil mísseis Igla-S em posições estratégicas, o número de lançadores é limitado a aproximadamente 700 unidades, o que restringe a efetividade das defesas contra ataques aéreos contemporâneos.

Adicionalmente, a escassez de manutenção, peças de reposição e treinamento contínuo coloca em xeque a capacidade da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) de resistir a um confronto direto com a maior potência bélica mundial. Essa conjuntura reforça a percepção de que a Venezuela, apesar de contar com equipamentos modernos, não detém um aparato pronto para uma guerra convencional prolongada.

Estratégia de resistência e o cenário de guerra irregular

Diante das limitações tecnológicas e de capacidade bélica, o governo de Nicolás Maduro sinaliza uma preparação para um cenário de conflito prolongado baseado em dissidência popular e guerra de guerrilhas. A estratégia envolve a dispersão de armamentos, inclusive para milícias e comunidades, numa tentativa de formar uma resistência armada descentralizada. Esta tática reflete o chamado conceito de “periodização da guerra”, no qual fases sucessivas escalariam o conflito até uma luta popular sustentada contra uma eventual intervenção estrangeira.

Entretanto, analistas e ex-diplomatas apontam que esse cenário enfrenta dificuldades internas. Maduro não possui amplo apoio nem entre os militares nem entre grande parte da população, o que fragiliza a coesão necessária para uma resistência popular efetiva. O histórico de baixa confiança no líder e as denúncias de eleições fraudulentas também minam a legitimidade política do regime para mobilizar uma defesa civil ampla.

Análise final

Em síntese, a capacidade militar da Venezuela para resistir a um ataque direto dos Estados Unidos é considerada limitada e desgastada. Embora disponha de material bélico moderno em parte, a falta de manutenção, treinamento adequado, e capacidade operacional reduz significativamente seu potencial defensivo. O governo de Maduro se prepara para enfrentar uma batalha assimétrica, contando com a mobilização de milícias e armas portáteis no intuito de tornar a ocupação estrangeira custosa e instável.

O conflito potencial poderia se desenrolar em fases, começando pela instabilidade interna e eventualmente evoluindo para um prolongado confronto de guerrilha, cujo sucesso depende da adesão popular e da capacidade logística do regime.


[Da redação do Movimento PB]
MPB-BBC-14112025-DHS78J21-001