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Chips vs. Terras Raras: a trégua forçada que define a rivalidade entre EUA e China

Análise da Reuters Breakingviews aponta que a hostilidade entre as duas maiores economias do mundo é contida por uma dependência mútua: Washington precisa dos minerais chineses, e Pequim, dos semicondutores americanos.

A relação entre Estados Unidos e China vive uma espécie de guerra fria tecnológica, marcada por uma trégua tensa e instável. A hostilidade entre as duas superpotências é contida não pela diplomacia, mas por uma frágil balança de “destruição mútua assegurada” no campo econômico. De um lado, Washington e seus aliados controlam o acesso aos semicondutores mais avançados do mundo; do outro, Pequim domina de forma esmagadora o processamento de terras raras, minerais essenciais para a indústria de alta tecnologia. Essa dependência cruzada funciona como um “disjuntor” (circuit breaker), impedindo, por ora, uma escalada total na guerra comercial.

Um exemplo claro dessa dinâmica ocorreu recentemente. Em maio, Washington reverteu a proibição da exportação de um chip de IA da Nvidia para a China. Em troca, Pequim liberou um volume maciço de terras raras, cujos embarques para os EUA saltaram 660% em julho. Ambas as partes fizeram concessões mínimas para manter o fluxo de recursos vitais, demonstrando que, apesar da retórica agressiva, nenhuma delas está pronta para arcar com as consequências de um rompimento total.

A corrida pela autossuficiência: quem vencerá primeiro?

O equilíbrio atual, no entanto, é visto por ambos os lados como uma vulnerabilidade a ser eliminada. Isso deu início a uma corrida estratégica pela autossuficiência, e a pergunta que definirá as relações globais nos próximos anos é: quem alcançará a independência primeiro?

Os Estados Unidos estão apostando alto para quebrar o monopólio chinês nas terras raras. O governo americano está investindo pesadamente em empresas como a MP Materials, a única mineradora do tipo no país, e considera realocar até US$ 2 bilhões da “Lei dos CHIPS” (originalmente para semicondutores) para projetos de minerais críticos. A aposta de Washington é que consegue construir sua própria cadeia de refino antes que a China domine a fabricação de chips avançados.

Do lado da China, o desafio é imensamente maior. Empresas como a Huawei lideram um esforço nacional para criar um ecossistema de semicondutores “made-in-China”, mas enfrentam um muro tecnológico. O design e a fabricação de chips de ponta dependem de um ecossistema global de equipamentos e softwares de precisão controlados pelos EUA e seus aliados (Japão, Holanda, Coreia do Sul). Sem acesso às máquinas de litografia de ponta da empresa holandesa ASML, por exemplo, é improvável que a China consiga produzir competitivamente algo mais avançado do que a geração de processadores que o mundo já usava em 2018.

EUA com vantagem, mas a interdependência continua

Na análise de especialistas, os EUA têm uma vantagem clara nesta corrida. A ciência para processar terras raras é bem conhecida, e outros países como Austrália e Japão também estão expandindo sua capacidade, tornando o monopólio chinês “mais vulnerável” a longo prazo. Já o desafio chinês nos semicondutores exige saltos tecnológicos simultâneos em várias frentes, enquanto o alvo, definido por empresas como a Nvidia, está em constante movimento.

Mesmo que um lado ganhe uma vantagem nesta disputa específica, a complexa teia de interdependência econômica não desaparecerá tão cedo. Washington ainda poderia usar outras cartas, como restrições a peças de avião, e Pequim poderia dificultar a vida de gigantes como a Apple em seu mercado. Por enquanto, esses pontos de dor compartilhados garantem que a guerra comercial não chegue ao seu potencial máximo de destruição, forçando uma estabilidade precária, mas necessária, no cenário global.

Da redação com informações da Reuters Breakingviews

Redação do Movimento PB [GMN-GOO-30082025-144740-A1B2C3-15P]


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