Dinheiro por desistência: Governo Trump oferece US$ 2,5 mil para que jovens imigrantes abandonem o ‘Sonho Americano’
Em uma das políticas migratórias mais controversas de sua gestão, Casa Branca lança “auxílio de realocação” para menores desacompanhados, uma medida que críticos classificam como uma “tática cruel” para coagir os mais vulneráveis.
A já endurecida política de imigração do governo de Donald Trump ganhou um novo e polêmico capítulo. A Casa Branca está oferecendo um pagamento de US$ 2,5 mil (cerca de R$ 13,3 mil) a adolescentes imigrantes que aceitem regressar voluntariamente aos seus países de origem. A medida, confirmada em uma carta enviada a abrigos federais, é direcionada a menores desacompanhados a partir dos 14 anos e representa uma escalada na estratégia de esvaziamento dos abrigos e de desincentivo à imigração, trocando a análise humanitária por uma solução monetária que beira a coerção.
O “auxílio único de realocação”, como foi oficialmente batizado, é gerido pelo Escritório de Reassentamento de Refugiados e pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE). Segundo o comunicado, a oferta será feita prioritariamente a jovens de 17 anos, e o pagamento só será efetuado após a autorização de um juiz e o retorno efetivo do adolescente ao seu país. A iniciativa surge em um contexto de crise humanitária, com mais de 2,1 mil crianças e adolescentes desacompanhados atualmente sob custódia federal nos Estados Unidos, de um total de mais de 600 mil que cruzaram a fronteira desde 2019.
A proposta foi imediatamente rechaçada por defensores dos direitos humanos, que a classificaram como uma “tática cruel”. Wendy Young, presidente da ONG Kids in Need of Defense, afirmou que “crianças desacompanhadas que buscam segurança nos EUA merecem nossa proteção, em vez de serem coagidas a concordar em voltar para as mesmas condições que colocaram suas vidas em risco”. A crítica central é que a oferta de uma quantia de dinheiro tão significativa para um jovem vulnerável obscurece a capacidade de uma tomada de decisão livre e informada. Para muitos desses adolescentes, que fugiram da violência e da miséria extrema, US$ 2,5 mil pode ser a maior quantia de dinheiro que já viram na vida, tornando-se uma pressão quase irresistível.
Esta medida não é um ato isolado, mas parte de uma estratégia mais ampla do governo Trump, que já havia reservado US$ 250 milhões para “deportações voluntárias”. A lógica é simples e fria: em vez de arcar com os custos legais e humanitários de processar pedidos de asilo e cuidar desses menores, o governo prefere oferecer um pagamento único para que eles desistam. É a mercantilização da esperança, onde o futuro de uma criança é precificado e negociado para aliviar as estatísticas do sistema migratório.
A política de “dinheiro por desistência” expõe a face mais transacional e desumana da atual gestão da fronteira americana. Ao invés de fortalecer os sistemas de proteção e acelerar a reunificação familiar, a estratégia opta por uma solução que, na prática, pode estar enviando jovens de volta para o perigo do qual tentaram escapar. A questão que fica é profundamente moral: quanto vale o sonho de uma criança desesperada? Para o governo Trump, a resposta parece ser exatamente 2,5 mil dólares, um valor que compra uma desistência, mas que vende a alma de uma nação que um dia se orgulhou de ser um farol de esperança para os oprimidos do mundo.
Redação do Movimento PB
Redação do Movimento PB [NMG-OGO-05102025-H4I9J1-13P]