‘Doutrina Monroe 2.0’: Após Venezuela, Trump ameaça Colômbia e aprofunda tensão na América Latina
Sob pretexto da “guerra às drogas”, Washington autoriza ações da CIA, militariza Caribe e ameaça diretamente o presidente Gustavo Petro.
A tensão entre Washington e a América Latina atingiu um nível alarmante. Após confirmar a autorização de ações da CIA contra o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, o presidente Donald Trump agora mira a Colômbia. Em linguagem similar à usada contra Caracas, Trump ameaçou diretamente o presidente Gustavo Petro no domingo (20).
O líder americano acusou Petro de “encorajar a produção maciça” de entorpecentes e de “não tomar nenhuma atitude” contra organizações criminosas. Além de anunciar cortes de verbas, Trump ameaçou: “Os Estados Unidos vão fechá-los [os campos de cultivo] para ele, e isso não será feito de forma agradável“.
O rompante contra Petro ocorre enquanto a concentração de forças militares dos EUA no Caribe é a maior desde a invasão do Panamá em 1989. Forças americanas já afundaram sete embarcações, resultando em 32 mortes, de pessoas apontadas por Washington como narcotraficantes. Recentemente, o governo Trump equiparou juridicamente esses grupos a organizações terroristas.
Uma ‘Doutrina Monroe 2.0’
A forma de engajamento dos EUA na região fez analistas apontarem que Trump estaria promovendo uma “Doutrina Monroe 2.0” desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro. A doutrina original, de 1823, usava o lema “a América para os americanos” como base ideológica para a intervenção dos EUA no continente, visando manter seus interesses.
Uma análise do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) afirma que o republicano se voltou para a região “mais do que qualquer outro presidente desde a Guerra Fria”, dizimando iniciativas de ‘soft power’ e aumentando o uso — e as ameaças de uso — da força militar. A mudança de abordagem, segundo o centro, decorre da preocupação de que os EUA “priorizaram a projeção de poder (…) em detrimento de sua ‘vizinhança compartilhada'”, permitindo a expansão da influência da China e o crescimento de organizações criminosas.
Crise entre aliados históricos
A Colômbia é, há décadas, o principal aliado dos EUA na América do Sul, tendo recebido US$ 14 bilhões em ajuda externa desde 2000. A relação, porém, estremeceu com o retorno de Trump. O republicano busca “recuperar o quintal” dos EUA, premiando aliados ideológicos como Javier Milei (Argentina) e Nayib Bukele (El Salvador), mas encontrou na Colômbia o primeiro presidente de esquerda na história recente do país, que não aderiu às ideias intervencionistas de Trump.
No domingo, após as publicações de Trump — que também se referiu a Petro como “um líder mal avaliado” e “com uma boca suja em relação aos EUA” —, o líder colombiano respondeu. Afirmou que o país nunca tratou os EUA de forma “grosseira”, mas que Trump “é grosseiro e ignorante” com a Colômbia. Petro vem denunciando a pressão militar, comparando as mortes nas operações navais a “execuções extrajudiciais” e acusou funcionários dos EUA de terem matado um pescador colombiano inocente.
Narcotráfico equiparado ao terrorismo
O deslocamento militar para o Caribe foi justificado como combate a cartéis como o Cartel de los Soles e o Tren de Aragua. O secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, defendeu as ações, afirmando que os cartéis “são a al-Qaeda do Hemisfério Ocidental” e “serão caçados e mortos”.
Especialistas, no entanto, questionam a militarização. Embora a Colômbia tenha batido recordes na produção de cocaína no ano passado (dados que o governo Petro contesta), as principais rotas de tráfico, apontam analistas, ficam no Pacífico, não no Caribe. Sergio Guzmán, chefe da Colombia Risk Analysis, disse ao Wall Street Journal que os EUA estão “ultrapassando os limites do direito internacional” e buscam “uma mudança de regime na Venezuela”.
Adaptado de O Globo, pela redação do Movimento PB [MNG-OOG-21102025-1449-F6A7B8C-V018]