Êxodo silencioso: 1,2 milhão de imigrantes deixam a força de trabalho dos EUA sob políticas de Trump, aponta estudo
Análise de dados do Censo revela um impacto drástico das novas políticas de imigração na economia americana, com setores críticos como agricultura e construção já sofrendo com a escassez de mão de obra.
Enquanto os Estados Unidos celebram o Dia do Trabalho, uma análise de dados preliminares do Censo americano, realizada pelo Pew Research Center, revela uma transformação silenciosa e drástica na força de trabalho do país: cerca de 1,2 milhão de imigrantes desapareceram do mercado de trabalho entre janeiro e julho deste ano. O número, que inclui tanto residentes legais quanto pessoas em situação irregular, é visto por especialistas como o primeiro grande reflexo das políticas de imigração intensificadas pelo presidente Donald Trump.
O impacto potencial dessa redução é imenso, considerando que os imigrantes representam quase 20% de toda a força de trabalho americana. Em setores essenciais, essa dependência é ainda maior. De acordo com o estudo, 45% de todos os trabalhadores da agricultura, pesca e silvicultura são imigrantes, assim como 30% dos trabalhadores da construção civil e 43% dos cuidadores de saúde domiciliar.
Do campo à construção: setores críticos sentem o impacto da escassez
A retração já está sendo sentida na prática. Em McAllen, no Texas, a diretora de uma organização de apoio a trabalhadores rurais, Elizabeth Rodriguez, relatou que a intensificação das batidas da fiscalização imigratória (ICE) em fazendas e canteiros de obras paralisou a região. “Em maio, durante o pico da nossa colheita de melancia e melão, houve atraso. Muitas safras foram perdidas“, afirmou.
Na construção civil, o cenário é semelhante. Uma análise da associação de construtores do país mostrou que o emprego no setor caiu em cerca de metade das áreas metropolitanas dos EUA. “Os empreiteiros relatam que contratariam mais pessoas se conseguissem encontrar trabalhadores qualificados e dispostos, e a fiscalização imigratória mais rígida não estivesse atrapalhando a oferta de mão de obra“, disse Ken Simonson, economista-chefe da associação.
O fator medo: a face humana por trás dos números
Por trás das estatísticas, há um clima de medo que se espalhou pelas comunidades imigrantes. Lidia, uma trabalhadora rural de 36 anos que vive na Califórnia há 23, resume a ansiedade. “A preocupação é que eles te parem enquanto você está dirigindo e peçam seus documentos”, disse ela à Associated Press. Sua maior angústia é ser deportada e separada de seus três filhos, que nasceram nos EUA. “Minha vida inteira tem sido nos Estados Unidos”, desabafou.
Embora o governo Trump afirme que o foco das deportações são “criminosos perigosos”, a maioria das pessoas detidas pelo ICE não possui antecedentes criminais. Para Pia Orrenius, economista do Federal Reserve Bank de Dallas, o impacto é claro: “O influxo pela fronteira, de onde estávamos recebendo milhões de migrantes, essencialmente parou. Isso teve um impacto enorme na capacidade de criar empregos“, disse ela, lembrando que os imigrantes normalmente respondem por pelo menos 50% do crescimento de vagas no país.
O êxodo silencioso de 1,2 milhão de trabalhadores levanta, portanto, questões críticas sobre o futuro da economia americana. Enquanto a retórica política se intensifica, setores que são a espinha dorsal do país se perguntam quem irá colher as safras, construir as casas e cuidar dos idosos em uma nação construída, historicamente, pela força de trabalho imigrante.
Da redação com informações da Associated Press
Redação do Movimento PB [GMN-GOO-01092025-212230-F1A4B8-15P]
Descubra mais sobre Movimento PB
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.