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Guerra secreta de Trump no Caribe: Congresso dos EUA se rebela contra ataques “ilegais” e falta de transparência

Guerra secreta de Trump no Caribe: Congresso dos EUA se rebela contra ataques “ilegais” e falta de transparência

Legisladores dos dois partidos acusam Casa Branca de esconder informações sobre ataques a barcos venezuelanos e temem que cidadãos inocentes possam ser mortos em uma campanha militar sem base legal clara.

Uma crise institucional está se formando em Washington, e seu epicentro é uma série de ataques militares secretos ordenados pelo presidente Donald Trump no Mar do Caribe. Membros do Congresso americano, tanto Republicanos quanto Democratas, estão cada vez mais alarmados com a recusa da Casa Branca em fornecer informações básicas sobre os ataques a supostos barcos de narcotraficantes vindos da Venezuela. A frustração é tão grande que legisladores já pedem acesso aos vídeos brutos das operações para verificar a legitimidade dos alvos, um pedido que, até agora, foi negado. A situação expõe uma perigosa escalada de poder executivo, onde o presidente parece ter iniciado uma guerra não declarada, à margem de qualquer supervisão democrática.

Desde o início de setembro, Trump já ordenou pelo menos cinco ataques militares na região, resultando na morte de 27 pessoas. A justificativa oficial é o combate ao narcotráfico. No entanto, a base legal para usar força letal militar, e não policial, é extremamente controversa. A administração alega que os EUA estão agora em um “conflito armado” com organizações de tráfico de drogas, enquadrando seus membros como “combatentes armados”, a mesma justificativa legal usada para caçar terroristas da Al Qaeda e do Estado Islâmico. Essa reclassificação, feita unilateralmente pelo Executivo, é o que mais preocupa os legisladores, que veem nela um precedente perigoso.

A “lista secreta” de inimigos e a rebelião de uma ex-agente da CIA

A falta de transparência atingiu um nível alarmante, a ponto de uma ex-agente da CIA, a hoje senadora democrata Elissa Slotkin, confrontar publicamente o governo. Em uma audiência no Senado, ela revelou que nem mesmo em sessões fechadas o governo informa quais são os grupos que estão sendo alvo. “Eu ajudei com a seleção de alvos [na CIA]. Não tenho nenhum problema em ir atrás desses cartéis”, disse Slotkin. “Mas nunca tivemos uma instância onde há uma lista secreta do que eu entendo serem dezenas de novas organizações terroristas que o público americano e, certamente, os comitês de supervisão não ficam sabendo”. A revelação de uma “lista secreta” de inimigos, desconhecida até pelo Congresso, chocou o Capitólio.

Para piorar, a própria narrativa do governo está repleta de furos. Trump afirmou que um dos barcos destruídos tinha ligação com a gangue venezuelana Tren de Aragua, mas nenhuma prova foi apresentada. A justificativa de combater o fentanil também é frágil, já que especialistas afirmam que a Venezuela não é uma fonte significativa da droga, que entra nos EUA principalmente por rotas terrestres a partir do México. A desconfiança sobre a precisão da inteligência americana atingiu o ápice quando o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que um dos barcos atacados, descrito pelos EUA como venezuelano, era na verdade colombiano e transportava cidadãos de seu país.

O perigoso precedente de uma guerra sem controle

Apesar das preocupações, uma resolução que exigiria a aprovação do Congresso para novos ataques foi derrotada no Senado na semana passada, com a maioria dos Republicanos se alinhando ao presidente. No entanto, mesmo senadores que votaram contra a medida, como o republicano Todd Young, expressaram “alta preocupação com a legalidade” dos ataques. O temor é que a campanha se expanda para alvos em terra firme na Venezuela, aumentando drasticamente o risco de vítimas civis.

O que está em jogo em Washington é mais do que uma disputa sobre política externa; é uma batalha pela alma da democracia americana e seus mecanismos de freios e contrapesos. Ao conduzir uma campanha militar baseada em justificativas legais frágeis, inteligência questionável e uma “lista secreta” de inimigos, o governo Trump testa os limites do poder presidencial. A linha que separa uma operação de combate ao crime de uma guerra não declarada está sendo apagada, criando um precedente que pode ter consequências imprevisíveis não apenas para a América Latina, mas para a estabilidade global.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [GNM-OOG-15102025-H8I1G9-13P]