Irã intensifica vigilância sobre mulheres com drones e reconhecimento facial, aponta relatório da ONU

Investigação revela uso de tecnologia para repressão e monitoramento de dissidentes

O governo do Irã tem ampliado o uso de tecnologias avançadas, como reconhecimento facial, drones e aplicativos, para monitorar e punir mulheres que não seguem as rígidas regras de vestimenta impostas pelo regime. A informação foi revelada em um relatório da Missão Internacional Independente de Investigação de Fatos das Nações Unidas, publicado na última sexta-feira.

O documento aponta que a vigilância patrocinada pelo Estado tem o objetivo de “sufocar a dissidência”, mantendo um clima de medo e impunidade sistemática. Entre as evidências apresentadas, está o uso de drones em Teerã e no sul do país, em abril de 2024, para fiscalizar se as mulheres estavam vestindo o hijab de acordo com as normas religiosas do regime. Além disso, a investigação destaca um “aumento assustador da vigilância” por meio de softwares de reconhecimento facial de longo alcance.

A repressão ocorre em meio ao endurecimento das políticas de controle sobre a vestimenta feminina, intensificadas após a morte de Mahsa Amini, jovem de 22 anos detida por não usar o véu corretamente. Sua morte sob custódia policial, em setembro de 2022, desencadeou uma onda de protestos massivos no país, levando a uma repressão violenta por parte das autoridades iranianas.

Uso de aplicativos para denunciar mulheres sem hijab

Além da vigilância aérea e do reconhecimento facial, o relatório destaca o uso de ferramentas digitais para reforçar a repressão. Entre elas, o aplicativo Nazer, que permite aos cidadãos registrar e denunciar mulheres vistas sem o hijab, informando a placa do veículo, localização e horário. Recentemente, a funcionalidade do aplicativo foi expandida para incluir ambulâncias, transportes públicos e táxis.

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A investigação documentou casos em que mulheres tiveram seus veículos confiscados por não usarem o véu adequadamente. O relatório, baseado na análise de 38 mil documentos e em entrevistas com 285 vítimas e testemunhas ao longo de dois anos, será apresentado oficialmente ao Conselho de Direitos Humanos da ONU na próxima terça-feira.

Execuções e repressão continuam

O relatório da ONU também revelou que 10 homens foram executados no contexto dos protestos desde a morte de Mahsa Amini, enquanto pelo menos 11 homens e três mulheres seguem sob risco de pena capital.

Para a presidente da missão da ONU, Sara Hossain, o uso de tecnologia para vigilância e punição demonstra um agravamento da repressão no Irã:

— A criminalização, vigilância e repressão contínua de manifestantes, famílias de vítimas e sobreviventes, em particular mulheres e meninas, é profundamente preocupante.

A comunidade internacional segue acompanhando os desdobramentos da repressão no Irã, enquanto ativistas alertam para o impacto do uso crescente de tecnologia como ferramenta de controle e opressão.

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