Meta é acusada de lucrar com anúncios fraudulentos em larga escala, aponta relatório internacional

Governo e Big Techs voltam a se chocar sobre regulação digital
Em meio a novas revelações da Reuters sobre práticas internas da Meta — dona do Facebook, Instagram e WhatsApp — o debate sobre a responsabilidade das big techs pela desinformação global ganha fôlego. A agência revelou que executivos da empresa, sob comando de Mark Zuckerberg, teriam enfraquecido políticas de moderação em diversos países, priorizando o crescimento e a “liberdade de engajamento” mesmo diante de alertas internos sobre riscos democráticos. A denúncia reacende uma questão que já atravessa fronteiras: até que ponto a liberdade nas redes é realmente livre — e para quem?
No Brasil, o tema tem implicações diretas. O governo federal tenta, desde 2023, reintroduzir o debate do PL das Fake News (Projeto de Lei nº 2630/2020), que propõe exigir das plataformas mecanismos transparentes de moderação, rastreabilidade de mensagens e responsabilidade jurídica sobre conteúdos nocivos. As empresas reagiram com campanhas públicas, alertas em seus aplicativos e pressões nos bastidores. A Meta foi uma das mais ativas, alegando risco de “censura” e “violação da liberdade de expressão”.
Nos bastidores de Brasília, porém, a narrativa é outra: o lucro da desinformação. Parlamentares e juristas apontam que o modelo de negócios da Meta depende da viralização de conteúdos polarizadores, justamente os mais rentáveis em termos de engajamento e publicidade. “A moderação de conteúdo é vista como ameaça ao próprio motor financeiro da empresa”, resumiu um assessor do Ministério da Justiça em condição de anonimato.
“Não se trata de censura, mas de responsabilidade”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto. “O que não pode é a mentira valer mais do que a verdade.”
A fala ecoa uma mudança de paradigma no trato político com as plataformas. Enquanto em 2018 e 2022 a regulação digital era vista como risco à liberdade, hoje o discurso dominante entre especialistas é o da defesa da integridade democrática. Países europeus avançam com legislações duras — como o Digital Services Act da União Europeia — e pressionam gigantes como Google e Meta a agir proativamente contra o ódio e a manipulação informacional.
Em solo brasileiro, essa disputa tem contornos próprios. O Supremo Tribunal Federal ampliou o debate ao abrir inquéritos sobre milícias digitais e o financiamento de campanhas de desinformação. O ministro Alexandre de Moraes tornou-se uma figura simbólica da resistência institucional ao caos informativo, impondo multas e bloqueios a contas ligadas à extrema direita. Nesse contexto, a posição da Meta é vista com desconfiança: por um lado, a empresa promete colaboração; por outro, atua politicamente para restringir o alcance da regulação.
Segundo a investigação da Reuters, executivos da companhia teriam reduzido equipes de segurança eleitoral e moderadores de conteúdo em países fora dos Estados Unidos, inclusive na América Latina. O resultado: mais discurso extremista, mais polarização e menos transparência. Em nota, a Meta negou priorizar lucros sobre segurança e afirmou que suas políticas de integridade continuam “entre as mais rigorosas do setor”.
Um espelho quebrado da democracia digital
O episódio expõe um dilema global: quem vigia os vigilantes digitais? O Estado brasileiro, com seu histórico de burocracia e lentidão, tenta regular uma arquitetura comunicacional que se move em nanossegundos e é regida por algoritmos invisíveis. As plataformas, por sua vez, operam com uma lógica supranacional, fora das fronteiras legais e políticas, em uma espécie de zona cinzenta de poder.
Ao mesmo tempo em que se apresentam como meros intermediários, atuam como editores invisíveis de narrativas. Decidem o que viraliza e o que é silenciado. O resultado é um campo de guerra simbólico em que a opinião pública é moldada não por fatos, mas por engajamento. E onde a verdade, muitas vezes, se curva às métricas.
A Paraíba e o Nordeste, com seus polos de tecnologia emergentes — como o Centro de Inovação da UFPB e o Polo de Computação Quântica em instalação —, tornam-se parte desse tabuleiro. Pesquisadores locais alertam que a falta de regulação robusta torna vulneráveis as democracias periféricas, sujeitas à manipulação digital de massa e à concentração de dados estratégicos em mãos estrangeiras.
No fim das contas, a batalha entre governos e Big Techs não é apenas sobre censura ou liberdade. É sobre quem controla a realidade. A verdade, como os algoritmos, tornou-se maleável — e a democracia, um código em disputa permanente.
Da redação com informações de Reuters [PTG-OAI-06112025-1847-G5]
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Perguntas Frequentes (FAQ)
O que é o PL das Fake News?
O Projeto de Lei nº 2630/2020 propõe regras para responsabilizar plataformas digitais pela disseminação de conteúdos falsos. Ele exige mais transparência algorítmica, identificação de robôs e medidas de rastreabilidade de mensagens em massa. O objetivo é reduzir o impacto das fake news na política e na vida pública.
Por que a Meta é alvo de críticas no Brasil?
A Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, é acusada de permitir a circulação de desinformação e discurso de ódio. Enquanto o governo defende regulação, a empresa argumenta que leis mais rígidas poderiam ameaçar a liberdade de expressão. Críticos, porém, afirmam que o modelo de negócios da Big Tech se sustenta no engajamento gerado por conteúdos extremistas.
Qual a relação entre fake news e democracia?
A desinformação digital atua como um agente corrosivo da democracia. Narrativas falsas são usadas para manipular eleições, atacar instituições e semear desconfiança. A falta de regulação permite que a mentira se torne uma arma política com alcance global, explorando brechas das redes sociais para amplificar o ódio e o caos.
Outros países já regulamentaram as redes sociais?
Sim. A União Europeia criou o Digital Services Act (DSA), obrigando plataformas a remover conteúdos ilegais e revelar como seus algoritmos priorizam postagens. Canadá e Austrália também adotaram legislações semelhantes, mostrando que é possível equilibrar liberdade e responsabilidade digital sem comprometer direitos fundamentais.
Como a Paraíba se insere nesse debate?
Com o Polo de Computação Quântica previsto para 2026 e centros de pesquisa em IA, a Paraíba se destaca como referência tecnológica do Nordeste. Essa vanguarda torna o estado protagonista na discussão sobre segurança digital e soberania informacional, reforçando a importância de políticas públicas que protejam dados, pesquisas e cidadãos.
