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Nobel da Paz esnoba favoritismo de Trump e premia a oposição venezuelana em um recado direto ao populismo

Nobel da Paz esnoba favoritismo de Trump e premia a oposição venezuelana em um recado direto ao populismo

Comitê norueguês ignora a autoproclamação e a pressão da Casa Branca, e concede o prêmio a María Corina Machado, reafirmando os valores de coragem e integridade em um mundo marcado por líderes autoritários.

O anúncio do Prêmio Nobel da Paz de 2025, nesta sexta-feira (10), serviu como um balde de água fria nas pretensões de Donald Trump e um poderoso recado do Comitê Norueguês ao cenário geopolítico global. Enquanto o presidente dos EUA se colocava como o favorito absoluto, chegando a classificar como “um insulto” a possibilidade de não ser o vencedor, o comitê optou por um caminho de forte simbolismo: laureou María Corina Machado, a principal líder da oposição ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela. A escolha não foi apenas uma premiação, mas uma declaração de princípios, esnobando a lógica do poder personalista e reafirmando o compromisso do Nobel com a “coragem e a integridade”.

A expectativa em torno de Trump não era infundada, mas foi em grande parte autoconstruída. Amplificada pela recente aprovação de seu plano de cessar-fogo em Gaza, a Casa Branca orquestrou uma verdadeira campanha pela premiação. O próprio Trump, em um discurso a militares, argumentou que merecia o prêmio por ter apresentado soluções para “sete guerras no mundo”. Sua retórica, no entanto, sempre esteve desalinhada com os valores historicamente defendidos pelo comitê: a promoção da fraternidade internacional, o trabalho silencioso de instituições e a durabilidade da paz, como destacam especialistas.

A resposta do líder do Comitê Norueguês, Jørgen Watne Frydnes, ao justificar a não premiação de Trump foi uma aula de diplomacia e firmeza. Sem citar o nome do presidente americano, ele aludiu diretamente à campanha midiática. “Na história longa deste prêmio, já vimos campanhas, cartas e muito mais. Este comitê se reúne em uma sala cheia de retratos de todos os laureados, e essa sala está repleta de coragem e integridade. Portanto, baseamos nossa decisão apenas no trabalho e na vontade de Alfred Nobel”, disse Frydnes. A mensagem foi clara: o Nobel não se curva a pressões políticas ou ao barulho das redes sociais.

A escolha de María Corina Machado é emblemática. Em um momento de ascensão de líderes autoritários e de descrédito da democracia em várias partes do mundo, o Comitê Nobel optou por homenagear uma figura que personifica a resistência pacífica contra uma ditadura. É um reconhecimento da luta por direitos humanos e pela liberdade em um dos contextos mais brutais do nosso continente, e um contraste gritante com a figura de Trump, cuja presidência tem sido marcada pela polarização, pelo ataque a instituições e por uma política externa transacional.

A reação de Trump, que antes mesmo do anúncio já se dizia insultado, revela uma profunda incompreensão sobre a natureza do prêmio. O Nobel da Paz não é um troféu a ser conquistado pela força ou pela autopromoção, mas um reconhecimento a esforços que, muitas vezes, operam nas margens do poder estabelecido. Ao premiar o movimento dos sobreviventes da bomba atômica no ano passado e, agora, a oposição venezuelana, o comitê reforça sua missão de dar voz aos que lutam contra a opressão e a violência, e não de validar os poderosos que as perpetuam.

No fim, a decisão do comitê em Oslo não foi apenas sobre quem ganhou, mas sobre o que o Prêmio Nobel da Paz representa em 2025. Ao ignorar o favoritismo de Trump, o comitê não apenas esnobou um candidato, mas rejeitou um modelo de liderança. Foi um recado de que, em um mundo cada vez mais caótico, os valores de diálogo, resiliência e a defesa incansável da democracia ainda são a bússola que aponta para um futuro de paz, e não a retórica da força e do confronto.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-10102025-A8B3C1-13P]