Polônia se Arma Contra Ameaça Russa com Treinamento Civil e Recorde em Gastos Militares


Preocupação com retórica de Trump e histórico de invasões impulsionam preparação bélica; 5% do PIB é destinado à defesa.


Wroclaw, Polônia — Em um campo de treinamento militar a 50 km da fronteira com a Ucrânia, civis poloneses aprendem a manusear fuzis, aplicar torniquetes e usar máscaras de gás. O programa “Treine com o Exército”, esgotado até 2026, é o símbolo de uma nação que revive fantasmas do passado para se preparar para um futuro incerto. Com a Rússia a leste e a OTAN em crise, a Polônia investe 5% do PIB em defesa — o maior percentual da aliança — e planeja criar o maior exército da Europa.


Civis na Linha de Frente

Aos sábados, o capitão Adam Sielicki transforma fazendeiros, estudantes e donas de casa em reservistas. “Temos 200 vagas por mês. Preenchemos em minutos”, diz o militar, enquanto instrutores ensinam civis a disparar AK-47. Entre os alunos está Dariusz, 42, que não hesitaria em pegar em armas: “A história nos ensinou: só podemos confiar em nós mesmos”.

A iniciativa reflete um plano ambicioso: treinar todos os homens adultos do país (8,5 milhões) até 2030. Mulheres como Agata, 34, também aderem. “Trump quer abandonar a Europa. Se a Rússia atacar, seremos prisioneiros”, afirma a enfermeira, ajustando uma máscara de gás.


Investimentos Billonários e Alianças Alternativas

A Polônia está em uma corrida armamentista sem precedentes:

  • US$ 48 bilhões em gastos militares em 2025;
  • 500 tanques coreanos K2 Black Panther entregues até 2026;
  • 96 caças F-35 americanos em operação.

Mas a eleição de Donald Trump abalou a estratégia. Após a retirada de tropas dos EUA de Rzeszow (base crucial para apoio à Ucrânia), Varsóvia busca o “guarda-chuva nuclear” francês e acordos com o Reino Unido. “Trump nos forçou a ser criativos”, admite Tomasz Szatkowski, conselheiro de defesa do governo.


O Trauma da História

Wanda Traczyk-Stawska, 98, sobrevivente da invasão soviética de 1939 e da Revolta de Varsóvia (1944), não duvida: “A Rússia sempre foi agressiva. Armas são a única língua que entendem”. Sua foto empunhando uma metralhadora aos 15 anos é um lembrete de que a Polônia já foi esmagada entre Hitler e Stalin.

O medo de repetir a história alimenta políticas públicas. O governo quer expandir as forças armadas para 500 mil militares (atuais 216 mil), ultrapassando França e Alemanha.


Entre Bunkers e Descrença

Enquanto o Estado se arma, civis recorrem a soluções caseiras. Janusz Janczy, da ShelterPro, vendeu 120 bunkers antiaéreos em 2024 — maioria para famílias. “Cada um custa € 50 mil, mas o medo não tem preço”, diz, mostrando um modelo à prova de bombas nucleares.

Mas uma pesquisa recente expõe contradições: só 10,7% dos poloneses se alistariam em uma guerra. Nas ruas de Wroclaw, estudantes como Marcel, 22, são céticos: “Por que morrer por políticos? Fugiria”.


Destaques:

  • 5% do PIB polonês é o maior investimento em defesa da OTAN;
  • ShelterPro quadruplicou vendas de bunkers após eleição de Trump;
  • Apenas 1 em 10 poloneses se alistaria voluntariamente em caso de guerra.

O Paradoxo Polonês

A Polônia vive um dilema: enquanto o governo ergue o “exército mais forte da Europa”, parte da população rejeita o sacrifício. Para veteranos como Wanda, é uma traição à memória dos que caíram contra nazistas e soviéticos. Para a geração TikTok, é realismo puro.

Enquanto tanques desfilam na fronteira e abrigos subterrâneos proliferam, a questão persiste: a preparação frenética é paranoia ou precaução? A resposta pode definir o futuro não só da Polônia, mas da Europa.


Adaptação da Reportagem de Will Vernon (BBC News) com foto de BBC/Divulgação

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