Inflação elevada, retração no consumo e queda na confiança dos consumidores marcam início turbulento da nova gestão republicana
O governo de Donald Trump sofreu um duro golpe nesta quarta-feira (30), com a divulgação do primeiro Produto Interno Bruto (PIB) de sua nova gestão. De acordo com o Escritório de Análise Econômica dos Estados Unidos, a economia do país recuou 0,3% no primeiro trimestre de 2025, o primeiro resultado negativo desde 2022. O desempenho frustrante ocorre em meio à implementação do chamado “tarifaço” – a estratégia comercial do republicano para proteger a indústria nacional com pesadas tarifas sobre produtos importados.
Os dados agravam o cenário já turbulento enfrentado pelo novo mandato de Trump, que também registra alta de 3,4% na inflação e queda acentuada na confiança do consumidor, indicadores que jogam ainda mais dúvidas sobre a eficácia da política econômica do atual presidente.
Consumo em retração e recorde nas importações
Segundo o relatório oficial, a queda do PIB no primeiro trimestre reflete a combinação de desaceleração nos gastos dos consumidores, queda nos gastos do governo e um aumento expressivo nas importações. O movimento de antecipação por parte de empresas para evitar o impacto das novas tarifas elevou o déficit comercial de bens a um recorde histórico de 162 bilhões de dólares em março, com as importações chegando a 342,7 bilhões – o maior valor já registrado pelo país.
Esse comportamento revela a tentativa do setor privado de se precaver diante da instabilidade no comércio internacional. A estratégia, no entanto, provocou efeitos colaterais indesejados: enquanto o país importou mais, a demanda interna começou a ceder, sinalizando insegurança entre consumidores e investidores.
Mercado surpreso e confiança em queda
A retração econômica pegou o mercado de surpresa. Mesmo diante de sinais de desaceleração, a expectativa majoritária entre analistas e instituições financeiras era de que o crescimento se manteria, ainda que de forma modesta. A confirmação da queda no PIB veio na esteira de outros indicadores negativos, como o Índice de Expectativas do consumidor, que caiu 12,5 pontos em abril, atingindo 55,4 pontos – menor patamar desde outubro de 2011.
“A confiança do consumidor diminuiu pelo quinto mês consecutivo, caindo para níveis não vistos desde o início da pandemia”, alertou Stephanie Guichard, economista sênior do Conference Board.
Trump responsabiliza Biden
Em sua primeira reação pública aos dados econômicos, Trump voltou a recorrer à sua retórica habitual: eximiu-se de responsabilidade e culpou seu antecessor. “Este é o mercado de ações de Biden, não de Trump. Só assumi em 20 de janeiro. As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes”, escreveu o presidente em rede social. “Nosso país prosperará, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden. Isso levará tempo e não tem nada a ver com tarifas.”
A declaração, no entanto, contrasta com o alerta de economistas e de organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial, que já haviam demonstrado preocupação com os impactos da política comercial protecionista nos fluxos globais e no crescimento econômico norte-americano.
Alento pontual: investimento em equipamentos
Apesar do cenário adverso, um ponto positivo se destacou no relatório econômico: os investimentos empresariais cresceram 21,9% no trimestre, impulsionados pela compra de equipamentos e infraestrutura produtiva. Esse movimento pode indicar uma tentativa de adaptação das empresas às novas condições comerciais, mas ainda é insuficiente para reverter a tendência negativa geral da economia.
Caminho incerto
O resultado do primeiro trimestre acendeu um sinal de alerta em Washington. Com a inflação acima da meta, a confiança dos consumidores em queda e o PIB em retração, a política econômica de Trump terá de enfrentar um teste duro nos próximos meses: provar que sua estratégia comercial pode, de fato, impulsionar a economia real – e não apenas criar instabilidade.
Se o objetivo do “tarifaço” era proteger a indústria nacional e incentivar a produção interna, os dados iniciais indicam que o efeito imediato foi uma corrida às importações, elevação de preços e desconfiança no mercado. E, no atual ambiente global, pedir paciência ao consumidor norte-americano pode ser o maior desafio político para o presidente republicano.