Detenção de líder estudantil pró-Palestina é vista como ataque à liberdade de expressão, enquanto Trump promete mais ações.
A prisão de Mahmoud Khalil, líder estudantil palestino da Universidade de Columbia, no último sábado (8), gerou uma onda de revolta mundial que se intensificou nesta segunda-feira (10). Acusado sem evidências públicas de atividades “pró-terroristas” pelo governo Trump, Khalil foi detido por agentes do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega) em seu alojamento no campus, apesar de possuir um green card válido. O caso, que marca o primeiro grande movimento da administração Trump contra ativistas pró-Palestina desde sua posse em janeiro, foi classificado por organizações de direitos humanos como uma afronta à liberdade de expressão, desencadeando protestos e uma petição com mais de 1,7 milhão de assinaturas.
Contexto da Prisão
Khalil, que se formou em dezembro de 2024 com um mestrado em Assuntos Internacionais pela Columbia, foi uma figura central nos protestos de 2024 contra a guerra Israel-Hamas, iniciada após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Como negociador do grupo Columbia United Apartheid Divest (CUAD), ele exigia que a universidade desinvestisse de empresas ligadas a Israel. Sua prisão, confirmada pelo Departamento de Segurança Nacional como parte das ordens executivas de Trump contra o “antissemitismo”, ocorreu dias após o presidente prometer deportar estudantes estrangeiros envolvidos em “protestos ilegais”. “Esta é a primeira de muitas”, declarou Trump no Truth Social, acusando manifestantes de serem “simpatizantes terroristas” e “agitadores pagos” — alegações sem provas até o momento.
Reação Internacional e Local
A detenção provocou indignação global. A ONU, por meio do porta-voz de António Guterres, defendeu o direito à liberdade de expressão e reunião pacífica, enquanto a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) chamou a ação de “ilegal e antiamericana”. “É um precedente perigoso para intimidar vozes dissidentes”, afirmou Ben Wizner, da ACLU. Em Manhattan, mais de mil pessoas protestaram na tarde de segunda-feira, com ex-alunos como Tobi, uma judia pró-Palestina, classificando a prisão como “sequestro”. “Vamos resistir para mostrar que isso não nos calará”, disse ela.
Na Columbia, professores como Joseph Howley e Michael Thaddeus denunciaram um clima de medo no campus. “Khalil é um prisioneiro político. Este é um momento obscuro para os EUA”, declarou Thaddeus. A Coalizão de Estudantes pela Solidariedade à Palestina criticou o “silêncio preocupante” da universidade, que se limitou a dizer que cumprirá a lei federal sem comentar o caso específico.
Implicações Legais e Políticas
A prisão de Khalil, um residente permanente casado com uma americana grávida de oito meses, levanta questões jurídicas graves. Sua advogada, Amy Greer, entrou com um habeas corpus, alegando que o ICE inicialmente justificou a detenção com a revogação de um visto — corrigida para o green card após protestos da família. “O governo usa a imigração para suprimir discurso político”, disse Greer, que ainda desconhece o paradeiro exato de Khalil, possivelmente transferido para a Louisiana.
Críticos, como Donna Lieberman da ACLU de Nova York, veem a ação como um “ponto de inflexão” na repressão a imigrantes e estudantes. “Se um residente permanente pode ser detido assim, ninguém está seguro”, alertou a Coalizão de Columbia. A medida alinha-se à promessa de Trump de cortar US$ 400 milhões em fundos federais da universidade, já anunciada na sexta-feira (7), por suposta tolerância ao “antissemitismo”.
Um Movimento em Ebulição
A prisão ocorre após meses de tensão nos campi americanos, com Columbia no epicentro dos protestos pró-Palestina em 2024. Acampamentos, ocupações e confrontos marcaram o ano passado, gerando acusações cruzadas de antissemitismo e repressão. Apesar do medo, ativistas prometem intensificar a resistência. “Isso só nos unirá mais”, disse Zainab Khan, ex-colega de Khalil, ao CNN Brasil. A petição online por sua libertação, hospedada no Action Network, reflete o apoio global crescente.
Enquanto Trump sinaliza mais detenções, o caso de Khalil expõe uma batalha entre segurança nacional e direitos constitucionais nos EUA, com ecos que reverberam desde Nova York até a ONU. Para muitos, é um teste crucial à democracia americana em tempos de polarização.
Texto baseado em informações da ISTOÉ