Ataques matam pelo menos 14 pessoas horas após Trump afirmar que Putin está “fazendo o que qualquer um faria”, enquanto Europa critica a postura americana.
Kyiv (Ucrânia), 08/03/2025 – A Rússia desencadeou um ataque devastador contra a Ucrânia neste sábado (8), matando ao menos 14 pessoas e ferindo dezenas, poucas horas depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, defender Vladimir Putin, afirmando que o líder do Kremlin estava “fazendo o que qualquer um faria”. O bombardeio, que intensificou a campanha russa contra cidades ucranianas, ocorre em meio a uma semana turbulenta, marcada pela suspensão do compartilhamento de inteligência e do fornecimento de armas americanas à Ucrânia por decisão de Trump.
Dobropillia: Uma Cidade em Chamas
Em Dobropillia, na região leste de Donetsk, dois mísseis balísticos atingiram o centro da cidade, incendiando um prédio residencial de cinco andares. Enquanto equipes de emergência corriam ao local, um segundo ataque russo matou 11 civis, incluindo cinco crianças entre os 30 feridos. Imagens do local mostram uma cena de destruição: carros queimados, escombros fumegantes e uma estrutura residencial reduzida a ruínas. “Foi chocante, não tenho palavras para descrever”, relatou Irina Kostenko, 59 anos, à AFP, após passar a noite abrigada com o marido e encontrar um vizinho morto ao sair.
Outro ataque com drones em Bohodukhiv, na região de Kharkiv, deixou três mortos e sete feridos. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, usou as redes sociais para condenar o que chamou de “tática vil e desumana de intimidação frequentemente usada pelos russos”. Ele pediu mais sanções contra Moscou para “colapsar” sua economia de guerra.
Trump, Putin e a Reação Europeia
Os ataques seguem uma semana de reviravoltas diplomáticas. Na sexta-feira (7), Trump reconheceu que a Ucrânia estava sofrendo um “castigo tremendo” devido à pausa no apoio americano, mas sugeriu que “qualquer um na posição de Putin” agiria da mesma forma. A declaração veio antes de uma reunião entre representantes dos EUA e da Ucrânia na Arábia Saudita, onde Trump afirmou achar “mais fácil” negociar com Moscou do que com Kyiv. A suspensão de inteligência comprometeu o sistema de alerta ucraniano contra mísseis, aumentando a vulnerabilidade civil.
Líderes europeus reagiram com indignação. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, lamentou “outra noite trágica na Ucrânia” e, sem citar Trump diretamente, criticou quem “apazigua bárbaros”. Kaja Kallas, chefe de política externa da UE, destacou que os mísseis russos mostram a falta de interesse de Putin na paz, cobrando mais apoio militar à Ucrânia: “Do contrário, mais civis ucranianos pagarão o preço mais alto.”
Escalada em Kursk e Sumy
A Rússia aproveitou o vácuo deixado pela retirada americana para avançar em múltiplas frentes. Em Kursk, onde forças ucranianas ocupam território russo há sete meses, tropas russas e norte-coreanas romperam defesas, ameaçando cercar unidades ucranianas. Relatos não confirmados indicam que Kyiv estabilizou temporariamente a situação, mas a logística está “se deteriorando rapidamente”, segundo o ativista Serhiy Sternenko no X. Duas estradas de suprimento para Sumy permanecem abertas, mas sob fogo constante de drones e artilharia russos.
A imprensa ucraniana reportou uma incursão ousada de cem soldados russos por um gasoduto em Sudzha, enquanto blogueiros do Kremlin celebraram avanços de quilômetros na região de Sumy e a retomada de três vilarejos em Kharkiv. A posição ucraniana em Kursk torna-se cada vez mais frágil.
Pressão sobre Zelenskyy e o Silêncio de Trump
Zelenskyy, que tenta reparar laços com Trump após um encontro tenso na Casa Branca em fevereiro, propôs um plano de paz com trégua terrestre e marítima, além de um acordo mineral favorável aos EUA. Até agora, porém, Trump intensificou a pressão sobre a Ucrânia sem exigir nada da Rússia. “O ataque de hoje mostra que os objetivos de Moscou não mudaram”, disse Zelenskyy, reiterando a necessidade de resistência.
Enquanto Dobropillia acordava entre escombros e luto, a postura de Trump — defendendo Putin e ignorando apelos ucranianos — alimentou críticas de cumplicidade. A Europa, alarmada, busca preencher o vácuo americano, mas o futuro da Ucrânia pende em um equilíbrio delicado, entre a devastação russa e a incerteza transatlântica.