Enquanto o governo federal debate políticas migratórias e de segurança, autoridades texanas avançam com uma estratégia que, segundo críticos, acentua a militarização da fronteira e serve a uma agenda política polarizadora. O estado do Texas anunciou recentemente a incorporação de duas ilhas, Beaver Island e as Roma Islands, ao seu território, alegando que esses pontos estratégicos – historicamente utilizados por cartéis mexicanos para esconder armas, drogas e pessoas – são “refúgios de impunidade”. Em uma carta dirigida ao ex-chefe de segurança migratória, Tom Homan, a Comissária de Terras do Texas, Dawn Buckingham, pediu que a administração Trump intervenha para “assegurar e defender” essas ilhas.
Uma narrativa de “segurança” questionada
De acordo com Buckingham, a ausência de jurisdição clara sobre ilhas dispersas pelo Rio Grande tem permitido que organizações criminosas explorem esses espaços como áreas de refúgio, onde nenhuma autoridade – seja dos Estados Unidos ou do México – consegue agir efetivamente. Para ela, essa lacuna “se transforma num paraíso para os cartéis”, justificando, assim, medidas que incluem o corte da vegetação que serve de cobertura para atividades ilícitas e a instalação de barreiras físicas, como arames farpados.
No entanto, críticos argumentam que essa narrativa de segurança é, em grande parte, uma ferramenta política para legitimar um endurecimento já em curso nas políticas de imigração e segurança nas fronteiras. Para muitos, o argumento de que o Texas está “crescendo” ao incorporar territórios como Beaver Island – que, segundo Buckingham, pode “fazer o estado maior em alguns séculos” – se entrelaça com uma retórica que busca reforçar a ideia de que a segurança nacional depende da exclusão e do controle rígido sobre o fluxo migratório.
A militarização da fronteira e seus impactos
O pedido para que a administração Trump intervenha diretamente no território – apesar de ter ocorrido em um momento de transição e incertezas na política migratória federal – ressalta a proximidade entre políticas estaduais agressivas e estratégias nacionalistas de segurança. A referência a uma suposta cooperação anterior, que teria reduzido em 95% o tráfego ilegal, é utilizada para reforçar a eficácia de medidas que, segundo especialistas, têm consequências diretas para comunidades migrantes e locais que dependem de fluxos transfronteiriços para sua subsistência.
Essa aproximação entre o discurso de segurança e ações de controle territorial reflete uma tendência observada não apenas no Texas, mas em vários estados fronteiriços, onde o endurecimento das políticas de imigração tem sido justificado como resposta a uma suposta “ameaça” dos cartéis e do crime transnacional. Contudo, organizações de direitos humanos e grupos de apoio a imigrantes apontam que essa retórica contribui para a estigmatização de comunidades vulneráveis e para o agravamento da crise humanitária na fronteira, onde milhares de pessoas enfrentam condições precárias e a ausência de proteção estatal.
Uma estratégia política com resquícios autoritários
Ao reivindicar a posse de ilhas no Rio Grande, o Texas se insere numa tradição de estados que, sob o pretexto da segurança nacional, expandem seus domínios de forma a justificar intervenções militares e ações repressivas. Críticos apontam que essa estratégia não só negligencia as raízes socioeconômicas dos problemas migratórios – frequentemente ligadas a desigualdades profundas e à exploração econômica –, como também alinha o discurso estadual a práticas autoritárias, que privilegiam o controle rígido e a exclusão em detrimento de políticas inclusivas e de respeito aos direitos humanos.
A retórica de “refúgios de impunidade” e a associação imediata de qualquer atividade transfronteiriça ao terrorismo ou ao crime organizado servem para obscurecer as causas estruturais da violência e da migração forçada. Para muitos analistas progressistas, essa abordagem contribui para a perpetuação de um ciclo de militarização que, longe de resolver os problemas de segurança, aprofunda a crise social e viola princípios democráticos e humanitários.
Reflexões para um futuro mais inclusivo
Em meio a um cenário onde o discurso de segurança é frequentemente usado para justificar medidas que restringem direitos e ampliam a exclusão, é fundamental repensar as políticas de fronteira e a forma como o Estado se relaciona com os fluxos migratórios e com as comunidades transfronteiriças. A militarização e a expansão territorial, longe de representar soluções sustentáveis, tendem a criar uma realidade de controle centralizado e repressivo, que agrava as desigualdades e alimenta a narrativa do “nós contra eles”.
Enquanto o Texas segue com seus esforços para incorporar territórios considerados estratégicos, a discussão pública – e, sobretudo, o debate na esfera política nacional – precisa olhar além das narrativas de segurança imediata e investir em políticas que promovam a integração, a justiça social e o respeito aos direitos humanos. Afinal, a verdadeira segurança não se constrói por meio da exclusão e da força militar, mas por meio da construção de uma sociedade que valorize a vida, a dignidade e a inclusão de todos os seus cidadãos.
Traduzido e adaptado de Fox News