Governo Trump corta US$ 2,2 bi em fundos de Harvard após universidade rejeitar fim de programas DEI e outras demandas, citando antissemitismo.
O governo do presidente Donald Trump anunciou, em 14 de abril de 2025, o congelamento de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) em subsídios federais destinados à Universidade de Harvard, uma das mais renomadas do mundo. A medida veio horas após a instituição rejeitar uma lista de exigências da Casa Branca, que incluíam o fim dos programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e auditorias para combater o que o governo chama de “assédio antissemita”. A decisão marca uma escalada nas tensões entre o governo republicano e universidades de elite, levantando debates sobre liberdade acadêmica e uso de fundos públicos.
Contexto do congelamento
Segundo o Departamento de Educação dos EUA, o corte responde à “interrupção do aprendizado” e ao “assédio a estudantes judeus” em campi universitários, especialmente após protestos pró-Palestina em 2024. O Grupo de Trabalho Conjunto para Combater o Antissemitismo anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões em subsídios plurianuais e US$ 60 milhões em contratos, alegando que Harvard não cumpre obrigações de direitos civis previstas no Título VI da Lei de Direitos Civis. Em março, o governo já havia colocado sob revisão US$ 9 bilhões em fundos federais da universidade, dos quais o corte atual é uma fração.
As exigências rejeitadas
Em 11 de abril, a Casa Branca enviou uma carta com 10 demandas, incluindo:
- Eliminação total dos programas DEI, substituídos por políticas baseadas em mérito.
- Auditorias de “diversidade de pontos de vista” em estudantes, professores e programas acadêmicos.
- Triagem de alunos internacionais para excluir quem seja “hostil aos valores americanos” ou “apoiador de terrorismo e antissemitismo”.
- Proibição de máscaras em protestos e redução da influência de grupos estudantis pró-Palestina.
Harvard, sob a liderança do presidente Alan Garber, rejeitou as condições, argumentando que violam a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege a liberdade de expressão, e extrapolam a autoridade legal do governo. “Nenhum governo, independentemente do partido, deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo podem perseguir”, escreveu Garber à comunidade acadêmica.
Reação de Harvard
Garber destacou que Harvard já tomou medidas contra o antissemitismo nos últimos 15 meses, como punições a quem viola políticas internas e programas para promover diversidade ideológica. Advogados da universidade, incluindo Robert Hur e William Burck, afirmaram que as exigências são “inconstitucionais” e ameaçam parcerias históricas com o governo, responsáveis por avanços em medicina, ciência e tecnologia. “Abandonar essas parcerias agora compromete a saúde de milhões e a vitalidade econômica do país”, disse Garber. A universidade segue aberta ao diálogo, mas não a demandas que excedam a autoridade legal.
Impactos e controvérsias
O congelamento afeta diretamente pesquisas financiadas por agências como o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, mas não está claro se instituições afiliadas, como o Mass General Brigham, serão impactadas. Com um fundo patrimonial de US$ 53,2 bilhões, Harvard tem recursos para resistir, mas a perda de fundos pode limitar estudos de longo prazo. A decisão gerou apoio de professores e grupos como a Associação Americana de Professores Universitários, que veem a postura de Harvard como um marco contra interferências autoritárias. Por outro lado, críticos, como a deputada Elise Stefanik, chamaram a universidade de “epítome da podridão moral e acadêmica”.
Um padrão em curso
Harvard não é o único alvo. O governo Trump cortou US$ 400 milhões da Universidade de Columbia e congelou fundos de Cornell (US$ 1 bilhão) e Northwestern (US$ 790 milhões), pressionando mudanças semelhantes. Columbia cedeu a algumas exigências, como a proibição de máscaras em protestos, mas enfrentou críticas internas. A estratégia reflete promessas de campanha de Trump para reformar o ensino superior, que ele acusa de promover “ideologias divisivas”. No entanto, ações como deportações de estudantes estrangeiros envolvidos em protestos e ameaças a outras universidades sugerem uma abordagem mais ampla, que alguns chamam de ataque à liberdade acadêmica.
O que vem pela frente?
O congelamento é imediato, mas Harvard pode recorrer judicialmente, como já fizeram professores da instituição, alegando violações constitucionais. O caso expõe um dilema: até que ponto universidades devem ceder a pressões políticas para manter fundos públicos? Para o público, o debate vai além do antissemitismo, tocando questões de autonomia, diversidade e o papel da educação em um mundo polarizado. Enquanto o impasse persiste, Harvard se posiciona como símbolo de resistência — ou, para outros, de privilégio acadêmico.
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Por redação do Movimento PB com informações de fontes públicas, como CNBC, NPR e The Harvard Crimson.