Internacional

Trump sinaliza mudança em imigração e teme irritar sua base radical

A proposta para os trabalhadores rurais

Em uma mudança de tom que surpreendeu até mesmo seus apoiadores, o ex-presidente Donald Trump sinalizou que está trabalhando em uma nova proposta que permitiria a permanência de trabalhadores rurais migrantes nos Estados Unidos, mesmo que estejam em situação irregular. A condição seria que os fazendeiros para os quais trabalham estivessem dispostos a “atestar” por eles. A declaração foi feita durante um discurso em Iowa, um estado de forte tradição agrícola.

A nova postura parece reverter, em parte, a sua conhecida linha dura sobre imigração. “Temos que trabalhar com os fazendeiros”, disse Trump, reconhecendo que muitos desses trabalhadores estão nos EUA há anos e que sua remoção seria “viciosa” e prejudicial para o setor agrícola, que depende dessa mão de obra. A proposta também se estenderia a trabalhadores de hotéis e do setor de lazer.

O dilema: agradar fazendeiros ou a direita radical?

Durante o discurso, Trump demonstrou estar ciente do dilema político que sua nova proposta cria. Ele admitiu abertamente que a medida poderia não agradar sua base mais fiel e ideológica. “Agora, as pessoas sérias da direita radical, de quem eu também gosto muito, podem não ficar tão felizes, mas elas vão entender. Não vão?”, questionou ele à plateia.

A mudança de rota vem após reclamações de fazendeiros e empresários sobre como as políticas de imigração agressivas de Trump, incluindo a suspensão de operações de fiscalização em fazendas, estavam prejudicando seus negócios ao afastar trabalhadores experientes e difíceis de substituir. Com a nova proposta, Trump tenta equilibrar as necessidades de um setor econômico importante com as demandas de sua base eleitoral.

A reação imediata dos ‘linha-dura’

A preocupação de Trump se mostrou justificada. A reação de alguns dos influenciadores e comentaristas mais radicais de seu movimento foi imediata e negativa. O influenciador de extrema-direita Jack Posobiec rapidamente usou as redes sociais para lembrar o caso de Mollie Tibbetts, uma jovem de Iowa assassinada em 2018 por um imigrante ilegal mexicano que trabalhava em uma fazenda.

Mike Cernovich, outro comentarista popular da direita, classificou a proposta como uma “grande traição”. Nick Fuentes, uma figura ainda mais extremista, disse que a medida equivalia a “cuspir na cara daqueles que confiam no plano”. A reação expõe a profunda divisão dentro do movimento de Trump sobre como lidar com a questão da imigração.

Um novo tom ou uma estratégia calculada?

Esta não é a primeira vez que Trump modula seu discurso sobre imigração para atender a interesses específicos. A proposta surge em um contexto onde cerca de 40% dos trabalhadores rurais nos Estados Unidos não possuem documentos, segundo um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA.

Apesar da aparente flexibilização, o foco principal da retórica de Trump continua sendo a remoção de criminosos violentos do país, pedindo aos próprios fazendeiros que assumam a responsabilidade por identificar quem representa um risco. Resta saber se essa nova abordagem é uma mudança genuína de política ou apenas uma estratégia calculada para acalmar um setor econômico vital, mesmo que isso signifique arriscar a fúria de sua base mais radical.

Redação com informações de The Daily Beast

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