UE rejeita pressão dos EUA por rompimento com China e defende comércio multilateral


A União Europeia descartou a possibilidade de romper laços econômicos com a China como condição para avançar em um acordo comercial com os Estados Unidos. Em meio às pressões de Washington para que parceiros comerciais reduzam suas relações com o gigante asiático, a Comissão Europeia reforçou sua política de “redução de riscos” e não de “desvinculação”. Especialistas europeus alertam para os impactos de uma postura protecionista dos EUA sobre a ordem econômica global.


A União Europeia reafirmou que não pretende romper laços econômicos com a China como parte de qualquer negociação comercial com os Estados Unidos. A posição foi reiterada pela porta-voz adjunta da Comissão Europeia, Arianna Podesta, em coletiva de imprensa na terça-feira (22), enquanto Washington e Bruxelas discutem um possível acordo comercial.

Reportagens recentes do Wall Street Journal e do Irish Times indicam que o governo norte-americano deseja usar suas negociações tarifárias com mais de 70 países para limitar o comércio com a China — incluindo uma pressão direta sobre a UE para escolher entre os dois gigantes. A visita do ministro irlandês Simon Harris aos EUA teria reforçado essa intenção.

Podesta evitou comentar sobre exigências específicas feitas pelos EUA, mas frisou que os diálogos com Washington visam encontrar soluções de benefício mútuo. “Nossa política com relação à China permanece inalterada há bastante tempo”, declarou. Ela também lembrou que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mantém contato constante com autoridades chinesas e já se posicionou publicamente sobre a relação bilateral.

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A representante europeia destacou que o objetivo da UE é “reduzir riscos” (de-risking) e não “desacoplar” (decoupling) sua economia da chinesa — uma distinção importante para Bruxelas.

Em relação às críticas do presidente norte-americano Donald Trump sobre o sistema de IVA europeu, as regulações para empresas de tecnologia e normas alimentares, Podesta limitou-se a afirmar que a Comissão Europeia não comprometerá a segurança e o bem-estar de seus cidadãos.

Trump e Von der Leyen estarão no Vaticano neste sábado para o funeral do Papa Francisco, mas não há confirmação de um encontro entre os dois — o que seria o primeiro desde que Trump reassumiu a presidência em janeiro.

Em entrevista ao Politico, Von der Leyen afirmou que “em um ambiente global cada vez mais imprevisível, países estão se alinhando para cooperar com a UE”, sem mencionar diretamente os EUA.

Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, pediu ao Reino Unido e à UE que atuem em conjunto para proteger o sistema de comércio multilateral, durante conversas telefônicas com seus homólogos britânico e austríaco.

Especialistas alertam para as consequências da atual postura norte-americana. Para Creon Butler, do think tank Chatham House, os EUA passaram de estabilizadores globais a fontes de incerteza econômica, adotando políticas centradas em interesses nacionais imediatos e sem compromisso com alianças duradouras.

Já Andre Sapir, do centro de estudos Bruegel, sugeriu que a UE lidere uma coalizão internacional de comércio aberto para conter o protecionismo dos EUA, respeitando as regras da OMC. Ele recomendou aos líderes mundiais uma declaração conjunta comprometida com um sistema comercial baseado em princípios, regras e cooperação multilateral.

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