Economia

Montadoras chinesas chegam ao Brasil com foco em veículos elétricos e híbridos

Rafael Avila, especialista em produtos da Riddara/Timber Foto: Timber

Fonte: Estadão (adaptação)

Nos últimos meses, o Brasil tem atraído a atenção de diversas montadoras chinesas, motivadas pelo excesso de produção na China e pelas barreiras comerciais em outros mercados. O país desponta como um destino estratégico, especialmente para a produção e importação de carros eletrificados. Entre as razões estão o crescimento do mercado brasileiro de veículos e a demanda crescente por modelos sustentáveis.

Motivações da chegada ao Brasil

A China, maior mercado consumidor de veículos do mundo, enfrenta saturação e dificuldades para exportar devido ao aumento do protecionismo em países como EUA, Europa e Índia. Com capacidade ociosa e condições desfavoráveis em outros mercados, as montadoras chinesas veem no Brasil um mercado promissor, com vendas anuais superiores a 2 milhões de veículos e um aumento expressivo nas vendas de elétricos, que cresceram 420% até outubro de 2024.

Conheça as montadoras em destaque.

Entre as empresas que estão desembarcando no Brasil estão nomes já conhecidos, como BYD e GWM, além de novos players como GAC, Neta Auto, Omoda/Jaecoo, Riddara e Zeekr. Cada uma tem planos específicos, que variam desde importação até a produção local, focando principalmente em carros elétricos e híbridos.

  • GAC (Guangzhou Automobile Group): Planeja investir US$ 1 bilhão no Brasil até 2029, com a possibilidade de adquirir uma planta da Toyota.
  • Neta Auto: Busca transformar sua operação brasileira em um hub de exportação para a América do Sul, com planos de abrir fábrica até 2026.
  • Riddara: Especializada em picapes elétricas, inicia suas operações com a RD6 e estuda a produção local.
  • Zeekr: Focada em carros de luxo, já lançou modelos como o Zeekr 001 e pretende ampliar sua presença no país com revendas em grandes capitais.

Desafios e oportunidades

O retorno gradual das tarifas de importação no Brasil, que podem chegar a 35% em 2026, impõe desafios para as montadoras. Ainda assim, muitas empresas combinam importação com produção local, buscando atender às demandas do mercado interno. Além disso, a competitividade dos produtos chineses, tanto em tecnologia quanto em preço, promete aquecer o mercado e provocar reações das montadoras tradicionais.

Especialistas veem o cenário como promissor, destacando que, diferentemente da onda de marcas chinesas nos anos 2000, a atual leva de empresas chega com produtos de alta qualidade e uma estratégia voltada ao consumidor brasileiro.

A chegada das montadoras chinesas ao Brasil marca um novo capítulo na indústria automotiva nacional, impulsionando a transição para veículos eletrificados. Com investimentos robustos e uma abordagem centrada no consumidor, essas empresas prometem transformar o mercado e contribuir para a expansão do segmento sustentável no país.


Marcas com projetos de produção local

GAC (Guangzhou Automobile Group)

GAC vai investir mais de US$ 1 bilhão no Brasil
GAC vai investir mais de US$ 1 bilhão no Brasil Foto: PaulShlykov/Adobe Stock

Quinta maior montadora da China, com produção de 2,5 milhões de carros em 2023, vai investir US$ 1 bilhão (mais de R$ 5 bilhões) até 2029 para produzir modelos elétricos, híbridos e a combustão no Brasil. Ela não revela quando iniciará fabricação mas, segundo fontes do setor automotivo, está em negociação com o governo de São Paulo. Uma opção é a compra da planta da Toyota em Indaiatuba, que será desativada até 2026. A GAC emprega 110 mil pessoas na China e atua em vários setores, além de produzir modelos para marcas como Honda e Toyota. O grupo ainda não tem diretor no Brasil, mas iniciou contratações para o administrativo. Tem vários modelos em seu portfólio e uma das apostas para o mercado brasileiro é o SUV elétrico Aion Plus.

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Neta Auto

Marca quer fazer de sua operação no Brasil um centro de exportação para a América do Sul
Marca quer fazer de sua operação no Brasil um centro de exportação para a América do Sul Foto: Quality Stock Arts/Adobe Stock

Com seis anos de existência, a empresa faz parte do grupo Hozon, provedor de tecnologia criado em 2014. Sua produção de carros elétricos e híbridos soma pouco mais de 500 mil unidades na China e recentemente inaugurou uma filial na Tailândia. A marca quer fazer de sua operação no Brasil um centro de exportação para a América do Sul. O plano é inaugurar a fábrica em 2026 e, segundo fontes do setor, também estaria de olho na planta da Toyota em Indaiatuba. Neste mês de novembro, iniciou a pré-venda de dois SUVs elétricos com preços a partir de R$ 129 mil. Por enquanto, tem cinco pontos de vendas em shoppings de São Paulo (Mogi das Cruzes), Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraíba e Ceará. Até dezembro terá 24 centros de atendimento aos clientes em 13 Estados.

Omoda/Jaecoo (O&J)

Brasil receberá os SUVs Omoda 5 elétrico e híbrido leve e o Jaecoo 7 híbrido plug-in em 2025
Brasil receberá os SUVs Omoda 5 elétrico e híbrido leve e o Jaecoo 7 híbrido plug-in em 2025 Foto: Dmitry Presnyakov/Adobe Stock

As duas submarcas da Chery – terceira maior fabricante chinesa que já opera no País com o Grupo Caoa -, foram lançadas em abril de 2023 e estão à venda em 30 países, incluindo México e Chile. Em março de 2025, o Brasil receberá os SUVs Omoda 5 elétrico e híbrido leve e o Jaecoo 7 híbrido plug-in. O local da fábrica para montagem de CKDs (kits) em 2025 está em negociação, mas é possível que seja na planta da Caoa Chery em Jacareí (SP), fechada há dois anos. A empresa tem memorandos com 34 grupos de revendas que abrirão 50 lojas em 20 Estados, diz Leandro Teixeira, responsável pela área de produtos no País. A meta é vender 30 mil carros/ano. O aporte para a fase inicial é de R$ 200 milhões e mais adiante será revelado o plano para a fábrica.

Riddara

Foi criada há dois anos com o nome Radar pela Geely, quarta maior da China, dona da sueca Volvo e de outras marcas chinesas que também estão vindo para o País. Nos mercados externos leva o nome Riddara. Sua representante oficial é a brasileira Timber, braço automotivo da Rodoparaná, empresa de máquinas e transporte rodoviário no Paraná. Chega para atuar no nicho de picapes e seu primeiro produto, a elétrica RD6 4×2, está em fase de encomendas com preço a partir de R$ 250 mil. A versão 4×4 chegará em janeiro, afirma Rafael Avila, da Riddara/Timber. O grupo brasileiro negocia com a Geely a montagem local das picapes futuramente, além da importação de outro tipo de veículo comercial ainda não revelado.

Comexport/Multimarcas

O grupo brasileiro Comexport vai investir R$ 400 milhões para preparar a antiga fábrica da Ford no Ceará para a produção terceirizada de seis carros elétricos e a etanol, de três marcas diferentes. Nomes ainda não foram revelados, mas a aposta do mercado é de que deve envolver marcas chinesas que estão chegando ao País. A nova linha da fábrica onde foram produzidos os jipes Troller está prevista para voltar a operar em 2025 e terá capacidade para 40 mil unidades/ano. A fábrica foi cedida pelo governo estadual à Comexport, uma das maiores no ramo de comércio exterior no País. É responsável pela importação de carros de diversas marcas como Volkswagen, Toyota, Honda e Mercedes-Benz.

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Projetos de importação

Zeekr

Algumas revendedoras no interior estão importando veículos da marca
Algumas revendedoras no interior estão importando veículos da marca Foto: aapsky/Adobe Stock

Também pertencente à Geely, foi lançada como marca global de carros elétricos de luxo em março de 2021. Tem sete modelos disponíveis, alguns em duas versões, e acumula mais de 340 mil unidades vendidas na China e em outros 35 países. O primeiro a chegar ao Brasil, em outubro, foi o Zeekr 001, sedã com preço a partir de R$ 475 mil. O SUV compacto Zeekr X, com preço a partir de R$ 272 mil, foi lançado neste mês de novembro, quando o grupo também inaugurou sua primeira loja na Av. Europa, tradicional ponto de venda de carros de luxo em São Paulo. Mais nove revendas estarão abertas nos próximos meses em Ribeirão Preto (SP) e grandes capitais. A própria Geely é responsável pela operação e, no momento, não há planos de produção local.

Leapmotor

O primeiro elétrico da marca chega ao Brasil em 2025 e será vendido em rede própria
O primeiro elétrico da marca chega ao Brasil em 2025 e será vendido em rede própria Foto: Timon/Adobe Stock

Foi criada em 2015 por Jiangming Zhu, dono de uma das maiores empresas de segurança e vigilância por vídeo, a Dahua. Desde 2019, quando lançou seu primeiro modelo, a marca produziu cerca de 500 mil unidades na China. No fim de 2023, a Stellantis (dona da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën), adquiriu 20% da Leapmotor e ficou com 51% de sua divisão internacional, com sede na Holanda. Agora é a responsável pela importação, venda e suporte de peças em todos os mercados fora da China. No Brasil, o primeiro elétrico chega em 2025 e será vendido em rede própria, diz o presidente da Stellantis América do Sul, Emanuele Cappellano. Atualmente não há planos de produção local, mas ele não descarta a possibilidade no futuro.

Xpeng

Produtos da marca começarão a ser vendidos no Brasil em 2025 por um distribuidor a ser anunciado
Produtos da marca começarão a ser vendidos no Brasil em 2025 por um distribuidor a ser anunciado Foto: Tada Images/Adobe Stock

Criada em 2014 para atuar em projetos de mobilidade elétrica, a empresa fez, no ano passado, uma parceria com a Volkswagen, que adquiriu 4,99% de suas ações. As marcas já trabalham no desenvolvimento conjunto de um SUV a bateria. A XPeng tem vários modelos de automóveis elétricos, entre eles o recém-lançado P7+ que, segundo a empresa, é o primeiro gerenciado por IA. Produtos da marca começarão a ser vendidos no Brasil em 2025 por um distribuidor a ser anunciado. Não há projeto de produção local. Até agora focada em modelos premium, a empresa lançou recentemente a marca Mona, que terá carros de baixo custo. A companhia também tem uma divisão de carros voadores e realizou, neste mês de novembro, o primeiro teste de seu e-VTOL.

Polestar

É uma marca sueca de carros elétricos de luxo que pertencia à Volvo, mas agora opera sob controle da chinesa Geely. Comunicado da empresa divulgado em junho anunciou sua chegada ao Brasil para 2025 por meio de um representante local, sem dar detalhes sobre esse futuro parceiro nem sobre os modelos que pretende trazer ao País. A ideia é realizar vendas apenas pela internet. A Polestar, antiga preparadora de carros esportivos, entrou no ramo de elétricos em 2017 e tem três modelos à venda – um quarto será lançado em breve. No mesmo comunicado, o grupo informou que, além do Brasil, vai operar na França, Alemanha, Eslováquia, República Tcheca, Polônia e Tailândia. Apesar de pertencer à Geely, mantém sua produção na Suécia e utiliza algumas plataformas da Volvo.

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