O Paradoxo da Construção Civil na Paraíba: Crescimento de Empregos Acompanhado por Aumento Alarmante de Acidentes
Enquanto o Sine de João Pessoa oferece dezenas de vagas para pedreiros e serventes de obras, refletindo o vigor da construção civil na Paraíba, um dado alarmante lança uma sombra sobre o setor: o número de acidentes de trabalho mais que dobrou no estado nos últimos quatro anos. Em plena Semana Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho, o cenário paraibano expõe um paradoxo crítico: como conciliar o crescimento econômico com a segurança e a dignidade de quem ergue esse progresso?
O setor, que hoje responde por 10% de todos os empregos formais no estado, com mais de 52 mil trabalhadores, cresceu 25,2% em dois anos, colocando a Paraíba em destaque nacional. Contudo, dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho revelam o custo humano desse avanço. Entre 2020 e 2024, os auxílios concedidos por acidentes de trabalho saltaram de 679 para 1.796, e os benefícios por invalidez permanente, que indicam sequelas duradouras, subiram 48% apenas no último ano.
Os Números por Trás dos Andaimes
A expansão é inegável e bem-vinda, mas a escalada dos acidentes acende um alerta vermelho. A questão não é frear o desenvolvimento, mas garantir que ele seja sustentável e, acima de tudo, humano. O aumento no número de concessões do benefício B91 (auxílio por incapacidade temporária) e B94 (auxílio-acidente permanente) indica que mais paraibanos estão se ferindo, e de forma mais grave, nos canteiros de obras. Este é um sinal de que as práticas de segurança podem não estar acompanhando a velocidade do mercado.
Para Carlos Feitosa, sócio da Eco Construtora, o debate transcende as estatísticas e mergulha em valores fundamentais. “A prevenção de acidentes é um termômetro da maturidade civilizatória de uma sociedade, pois revela o valor que ela atribui à dignidade humana. Uma organização que prioriza condições laborais seguras demonstra que compreende que o progresso econômico não pode se sustentar sobre o sacrifício de vidas”, defende.
A Resposta do Setor: Prevenção como Cultura, Não como Evento
Diante desse cenário desafiador, empresas do setor reforçam suas políticas internas. O engenheiro Jairo Dutra, da Eco Construtora, explica que a base para um ambiente seguro é a gestão contínua de riscos. “Cada treinamento é guiado pelo Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), o que permite identificar, avaliar e controlar os riscos presentes em cada atividade”, afirma. A empresa realiza diálogos diários de segurança (DDS), palestras e treinamentos práticos sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Coletiva (EPCs).
Recentemente, a abordagem foi ampliada para incluir a saúde mental, em linha com as novas exigências normativas que tratam de riscos psicossociais. “Levamos aos nossos canteiros palestras educativas sobre assédios, com foco na prevenção e no respeito”, relata Dutra. Ele reforça que a organização e a limpeza do canteiro são, por si só, medidas de segurança cruciais. A máxima é clara: “Segurança não é evento pontual, é rotina”.
Enquanto os guindastes redesenham o horizonte de João Pessoa e de toda a Paraíba, a verdadeira medida do nosso progresso não estará na altura dos edifícios, mas na garantia de que cada trabalhador que os ergueu retorne em segurança para sua família ao final do dia. Este é o alicerce de um desenvolvimento que se pode, de fato, chamar de justo e civilizado.
Da redação do Movimento PB, com dados e informações da Pauta Comunicação
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