O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta sexta-feira (22) que sua declaração sobre a polícia “prender mal” foi tirada de contexto e reforçou que as forças de segurança do Brasil são “altamente eficientes e preparadas”.
A fala inicial do ministro, feita durante um evento em Brasília, gerou forte reação negativa de representantes da segurança pública e de governadores. Durante a abertura da reunião da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Lewandowski havia dito:
— É um jargão que foi adotado pela população, que a polícia prende e o Judiciário solta. Eu vou dizer o seguinte: a polícia prende mal e o Judiciário é obrigado a soltar.
A declaração repercutiu entre entidades de segurança, que criticaram o ministro e apontaram que as dificuldades nas investigações se devem à falta de estrutura e apoio por parte do próprio governo federal.
Diante da reação, Lewandowski tentou amenizar o impacto de suas palavras nesta sexta-feira, em João Pessoa (PB), durante a inauguração de um centro de acolhimento para mulheres vítimas de violência. Ele alegou que sua intenção era destacar a necessidade de melhor estruturação das polícias e o fortalecimento das investigações.
— Quero ressaltar agora, publicamente, que nós temos uma polícia brasileira altamente eficiente e preparada. A minha expressão foi pinçada fora do contexto. As polícias têm que ser melhor remuneradas, melhor equipadas, melhor informadas para que possam prender de acordo com a lei — disse o ministro.
Reações e críticas de governadores
A tentativa de esclarecimento não impediu novas críticas. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), rebateu a fala do ministro e culpou o Judiciário por soltar criminosos reincidentes.
— A polícia prende, a Justiça solta. Em vez de proteger pessoas de bem, concede regalias a criminosos. Minas tem uma das melhores polícias do país, mas é revoltante ver reincidentes nas ruas por saidinhas e benefícios inaceitáveis. Enxugamos gelo! — escreveu Zema nas redes sociais.
Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), questionou a fala inicial do ministro e defendeu mudanças na legislação para garantir a permanência de criminosos presos.
— Ora, a queixa é nacional, em todos os Estados em que as polícias estaduais atuam. Então, todas as polícias estariam agindo errado? É um tema que precisa ser resolvido. Precisamos de alterações legislativas para garantir que os criminosos permaneçam presos.
Ministro defende PEC da Segurança Pública
Lewandowski reforçou a importância da PEC da Segurança Pública, que propõe um sistema nacional integrado de segurança e um melhor compartilhamento de informações entre as forças policiais e o Judiciário.
O Ministério da Justiça esclareceu que a fala do ministro ocorreu no contexto de uma falta de integração entre polícia e Justiça, o que pode dificultar a fundamentação das prisões durante audiências de custódia.
— Em muitos casos, o juiz não tem acesso imediato aos antecedentes do detido, pois há falhas na padronização e no compartilhamento de informações. A PEC da Segurança Pública busca solucionar isso, criando um sistema unificado de dados — afirmou Lewandowski.
A proposta, no entanto, enfrenta resistência. Entidades como a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais alegam que a medida desconsidera o papel das polícias científicas e a necessidade de investimento em tecnologia e investigação criminal.
Apesar da polêmica, Lewandowski insistiu que seu objetivo é fortalecer o trabalho das polícias e que suas palavras foram mal interpretadas. No entanto, as críticas de governadores e entidades policiais indicam que o episódio ainda pode ter desdobramentos políticos e institucionais.