Ascensão de General com passagem pelos EUA reabre debate sobre soberania militar no Brasil
Promoção ao mais alto posto do Exército coloca em foco a complexa relação entre cooperação estratégica com Washington e a autonomia da defesa nacional.
A promoção de Alcides Valeriano de Faria Júnior ao posto de general de Exército, a mais alta patente da Força Terrestre brasileira, transcende a formalidade militar. O oficial, que em 2019 ocupou uma função estratégica e inédita para um brasileiro no Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), assume agora um papel decisivo na formulação da doutrina e nas prioridades de modernização das Forças Armadas. A ascensão reacende uma discussão crucial para a soberania nacional: até que ponto a estreita cooperação com Washington fortalece o Brasil ou aprofunda uma dependência estrutural?
Em 2019, como general de brigada, Faria Júnior foi nomeado subcomandante de interoperabilidade no SOUTHCOM, órgão sediado em Miami e responsável por todas as operações militares norte-americanas na América do Sul, Central e Caribe. Sua função era coordenar exercícios conjuntos e protocolos operacionais entre os EUA e países aliados na região. A nomeação, ocorrida durante um período de forte tensão geopolítica envolvendo a Venezuela, foi celebrada por uns como um marco na cooperação bilateral, mas criticada por outros, que apontaram riscos de subordinação hierárquica e falta de transparência na base legal que permitiu tal arranjo.
Cooperação ou Dependência Estrutural?
A discussão sobre a influência norte-americana nas Forças Armadas brasileiras vai além de cargos e exercícios conjuntos. Segundo Ananias Oliveira, pesquisador e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a dependência é também financeira e formativa. Ele destaca que parte significativa das compras militares brasileiras no exterior é financiada por fundos sediados em Washington, criando uma vulnerabilidade estratégica. “Em caso de conflito, o Brasil estaria exposto a bloqueios financeiros e restrições logísticas”, alerta o pesquisador paraibano.
Oliveira ressalta ainda a dimensão doutrinária, lembrando que grande parte dos oficiais de elite do Brasil passa por cursos e treinamentos nos Estados Unidos. “Formalmente, o Exército trata isso como cooperação. Mas, olhando o contexto histórico, é difícil não enxergar um processo de subordinação velada”, afirma. A participação brasileira em exercícios como CORE, UNITAS e PANAMAX, todos liderados pelos EUA, reforça essa absorção de protocolos e táticas estrangeiras.
O Dilema da Soberania em um Novo Cenário Político
A nomeação de Faria Júnior para o SOUTHCOM foi articulada nos governos Temer e Bolsonaro, conhecidos pelo alinhamento com Washington. Sua promoção ao topo da carreira, no entanto, ocorre sob o governo Lula, que busca uma política externa mais multilateral, com foco nos BRICS e em parcerias Sul-Sul. Esse novo contexto torna a trajetória do general ainda mais simbólica. De um lado, sua experiência agrega um conhecimento valioso sobre operações multinacionais; de outro, reforça as preocupações sobre a preservação da autonomia decisória do Brasil em um cenário global instável.
Ao atingir a mais alta patente, o general Alcides Valeriano de Faria Júnior terá influência direta sobre a doutrina militar brasileira, a definição de aquisições estratégicas e o direcionamento de intercâmbios internacionais. Sua carreira exemplar culmina em um momento que obriga o Brasil a se olhar no espelho. A questão que sua promoção impõe não é sobre a competência de um indivíduo, mas sobre o futuro de uma nação: o país seguirá como um parceiro alinhado a uma superpotência ou buscará um caminho de maior autonomia para sua política de defesa?
Da redação com informações de Sociedade Militar
Redação do Movimento PB [GIM-GLE-24082025-113501-8B4A-V12.4]
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