Ato de Bolsonaro na Paulista: a guerra de números por trás do evento
As estimativas divergentes sobre o público
O ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, tornou-se palco não apenas de discursos políticos, mas também de uma intensa guerra de números. Enquanto os organizadores do evento celebram o que chamam de “uma das maiores manifestações da história”, os dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo e as análises de pesquisadores independentes apresentam um cenário diferente, gerando um debate sobre o real tamanho do público presente.
Essa divergência não é nova em manifestações políticas no Brasil, mas ganha um peso especial no atual contexto de polarização. O tamanho do ato é visto por ambos os lados do espectro político como um termômetro da força e da capacidade de mobilização do bolsonarismo.
Os números de cada lado
A discrepância entre as estimativas é significativa e reflete as diferentes metodologias e interesses envolvidos. Cada grupo apresentou um número que sustenta sua própria narrativa sobre o evento.
- Estimativa dos Organizadores: Aliados do ex-presidente e os organizadores do ato falam em um público que varia de 700 mil a mais de 1 milhão de pessoas, considerando a ocupação da Avenida Paulista e das ruas adjacentes.
- Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP): A contagem oficial, baseada em imagens aéreas e na análise da Polícia Militar, aponta para um público de cerca de 185 mil pessoas no pico da manifestação.
- Análise Acadêmica: Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que utiliza software para analisar fotos e vídeos e calcular a densidade de pessoas por metro quadrado, estimou um público ligeiramente menor que o da SSP, na faixa de 160 mil pessoas.
A metodologia por trás da contagem
A diferença nos números se explica, em grande parte, pelas metodologias distintas. Os organizadores de eventos políticos frequentemente utilizam estimativas mais otimistas, baseadas na percepção visual e em um cálculo de área total que inclui espaços com baixa densidade de pessoas. É uma contagem que carrega um forte componente político.
Já a SSP e os grupos de pesquisa acadêmica utilizam métodos mais técnicos. Eles delimitam a área de alta concentração de público, usam fotos aéreas panorâmicas tiradas no auge do evento e aplicam um cálculo de densidade (geralmente de 2 a 4 pessoas por metro quadrado, dependendo da compactação da multidão) para chegar a um número aproximado. Essa abordagem busca ser mais científica, embora também não seja isenta de margens de erro.
O peso político do tamanho do ato
Para o campo bolsonarista, apresentar um número na casa do milhão é fundamental para projetar uma imagem de força popular avassaladora e de resiliência política, mesmo com o ex-presidente inelegível. O objetivo é demonstrar que sua base de apoio continua mobilizada e que ele permanece como a principal liderança da direita no país.
Para os opositores e analistas críticos, os números mais modestos da SSP e dos pesquisadores indicam uma capacidade de mobilização significativa, mas longe dos recordes históricos de manifestações como as Diretas Já ou os protestos de 2013. A “guerra de números”, portanto, é uma disputa pela narrativa sobre o capital político de Jair Bolsonaro e o futuro da oposição no Brasil.