Bolsonaro no STF: 4 pontos do depoimento e destaques da trama golpista
Bolsonaro nega golpe no STF, admite discutir alternativas eleitorais e pede desculpas a Moraes. Depoimentos de réus expõem trama de 2022.
Em 10 de junho de 2025, Jair Bolsonaro enfrentou o ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) em um depoimento histórico sobre a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Réu, o ex-presidente negou planos de ruptura democrática, mas admitiu discutir “possibilidades” para reverter o resultado eleitoral, descartadas por inconstitucionalidade. Outros sete aliados, incluindo militares de alta patente, também foram interrogados, em um processo inédito contra um ex-mandatário por crimes contra a democracia. A BBC News Brasil destacou os pontos-chave do depoimento de Bolsonaro e momentos marcantes das audiências.
Depoimento de Bolsonaro em 4 pontos
- Negação do golpe: Bolsonaro afirmou que “nunca se falou em golpe” em seu governo, chamando a ideia de “abominável” e imprevisível. Contrastando com sua exaltação passada do golpe de 1964, ele disse ter jogado “dentro das quatro linhas” da Constituição, atribuindo falas polêmicas à sua “retórica”. Negou envolvimento nos atos de 8 de janeiro, chamando os invasores de “pobres coitados” e “malucos”.
- Discussão de alternativas: Questionado sobre a “minuta do golpe” — documento que previa estado de sítio e prisões de autoridades —, Bolsonaro admitiu analisar “alternativas” pós-derrota, mas as descartou por inconstitucionalidade. Ele negou ataques ao sistema eleitoral, apenas “críticas”, e disse que a desconfiança nas urnas é geral, citando Brizola e Flávio Dino.
- Desculpas a Moraes: Bolsonaro pediu desculpas por insinuar que Moraes e outros ministros receberam milhões ilegalmente em 2022, chamando a fala de “desabafo”. Adotou tom ameno, com deferência e até piadas, contrastando com sua postura agressiva em comícios. Para Rafael Mafei (USP), isso pode desagradar apoiadores radicais, mas reconhece a legitimidade do STF.
- “Carta fora do baralho”: Bolsonaro se referiu a si mesmo como “carta fora do baralho” ao cobrar confiança no sistema eleitoral, reconhecendo sua inelegibilidade até 2030. Apesar disso, mantém discurso de candidatura em 2026, sugerindo contradição estratégica para mobilizar sua base.
Outros momentos-chave dos réus
- Mauro Cid: O delator confirmou que Bolsonaro revisou a “minuta do golpe” para decretar estado de sítio, mas negou conversas sobre 8 de janeiro. Disse que o general Freire Gomes, comandante do Exército, rejeitou a trama, temendo “20 anos de regime militar”. Cid relatou pressões sobre as Forças Armadas, com Almir Garnier como único aderente.
- Almir Garnier: O ex-comandante da Marinha negou oferecer tropas para um golpe, dizendo se ater ao “papel institucional”. Afirmou que não sabia de fraudes nas urnas e considerou “surreal” a alegação de Freire Gomes sobre ameaçar prender Bolsonaro.
- Anderson Torres: Ex-ministro da Justiça, Torres chamou a minuta encontrada em sua casa de “minuta do Google”, negando intenção golpista. Admitiu falha “grave” na segurança em 8 de janeiro, quando era secretário de Segurança do DF, mas disse que sua ausência em Brasília foi coincidência. Pediu desculpas por críticas às urnas.
- Augusto Heleno: O ex-ministro do GSI negou saber do plano “Punhal Verde Amarelo”, que incluía assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes. Disse desconhecer o “gabinete de crise” que lideraria, informado apenas por jornais, e limitou-se a responder seu advogado.
- Paulo Sérgio Nogueira: Ex-ministro da Defesa, negou discutir golpe, mas admitiu avaliar “considerandos” de ruptura com Bolsonaro. Pediu acareação com Baptista Junior, da Aeronáutica, e desculpas por declarar “guerra ao STF”.
- Walter Braga Netto: Preso desde dezembro de 2024, o general negou arrecadar fundos para a trama, associando pedidos de dinheiro à campanha eleitoral. Em um momento inusitado, riu ao lembrar que sua prisão foi decretada por Moraes.
- Alexandre Ramagem: O ex-diretor da Abin negou uma “Abin paralela” para monitorar autoridades e disse que um vídeo enviado a Bolsonaro era um teste oficial do TSE, não prova de fraude.
Impacto e contexto
A audiência, transmitida pela TV Justiça, expôs a gravidade da trama, com a PGR descrevendo uma organização criminosa liderada por Bolsonaro desde 2021. Juristas veem a denúncia como sólida, mas a ligação direta com 8 de janeiro é mais frágil. A postura conciliadora de Bolsonaro, elogiada por Flávio Bolsonaro em redes sociais, pode alienar radicais, mas busca evitar agravamento de sua situação jurídica. A defesa tenta desqualificar a delação de Cid, mas testemunhas como Freire Gomes e Baptista Junior corroboram o plano.
Perspectivas futuras
Com o fim da fase de instrução, acusação e defesa têm 15 dias para alegações finais, sem data para o julgamento final na Primeira Turma (Moraes, Dino, Fux, Cármen Lúcia e Zanin). Se condenado por todos os crimes — organização criminosa, tentativa de golpe, abolição do Estado Democrático, danos e deterioração de patrimônio —, Bolsonaro pode pegar até 40 anos, com penas acima de 8 anos em regime fechado. Inelegível até 2030, ele segue como líder da oposição, mas o desfecho pode impactar 2026.
Com informações de BBC News Brasil, Agência Brasil, G1 e STF.