Brasil descarta moeda comum do Brics, mas busca reduzir dependência do dólar

País aposta na integração de sistemas de pagamento para baratear transações e ampliar uso de moedas locais

O Brasil não usará sua presidência do Brics em 2025 para propor a criação de uma moeda comum entre os países do grupo, mas terá como prioridade a interligação de sistemas de pagamento. O objetivo é facilitar o comércio e os investimentos, além de ampliar o uso de moedas locais como alternativa ao dólar, segundo fontes do governo. A estratégia pode gerar tensão com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A proposta busca modernizar os pagamentos internacionais por meio de novas tecnologias, reduzindo custos e aumentando a eficiência das operações. O modelo segue padrões de organismos multilaterais como o Banco de Compensações Internacionais (BIS).

Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha defendido, na semana passada, o direito de discutir formas alternativas de comercialização sem depender exclusivamente do dólar, fontes do governo reforçam que a criação de uma moeda única nunca esteve em discussão técnica no Brics. A ideia ganhou força nos últimos anos, principalmente após as sanções ocidentais contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.

Integração sem confronto

A estratégia brasileira evita um embate direto com Trump, que já ameaçou impor tarifas de 100% aos países do Brics caso adotem uma moeda alternativa ao dólar. Em vez de promover a desdolarização de forma explícita, a proposta se concentra na eficiência dos pagamentos transfronteiriços, utilizando tecnologias como blockchain para reduzir custos.

“O foco é a redução de custos e maior eficiência nas transações, sem ser contra ninguém”, afirmou uma fonte. Outra reforçou que nenhum país do grupo pretende abandonar suas reservas em dólar.

O plano brasileiro será apresentado aos demais membros do Brics em um encontro na África do Sul no final de fevereiro, durante as reuniões do G20.

Brasil aposta em tecnologia e no Pix como referência

O Brasil já trabalha na modernização dos pagamentos internacionais, como mostra a experiência do Pix, que se tornou o meio de pagamento mais utilizado no país em menos de cinco anos. O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicou que o sistema poderia ser integrado a outras plataformas de pagamento internacionais, apesar dos desafios de governança.

O país já possui um Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) com Argentina, Uruguai e Paraguai, permitindo transações diretas em reais sem a necessidade do dólar como intermediário. No entanto, seu uso ainda é limitado e depende de prazos mais longos para liquidação.

Com a tecnologia de pagamentos instantâneos, como o Pix, a expectativa é que essas conexões internacionais se tornem mais rápidas, seguras e baratas, ampliando as opções de comércio e reduzindo a dependência do dólar de maneira natural.

Texto adaptado de Reuters e revisado pela nossa redação.

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