China intensifica aproximação com Lula em meio à disputa geopolítica com os EUA, diz NYT


Reportagem do The New York Times aponta que a China está aproveitando a tensão comercial entre América Latina e Estados Unidos para estreitar laços com o presidente Lula. Segundo especialistas, Pequim vê no Brasil um parceiro estratégico para reforçar sua influência na região, enquanto Washington, sob Trump, adota medidas protecionistas. Apesar disso, o governo brasileiro tem tomado atitudes econômicas que indicam cautela frente à expansão comercial chinesa.


Em meio à escalada protecionista liderada pelo ex-presidente Donald Trump, a China tem intensificado esforços para se aproximar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros líderes latino-americanos, destaca o The New York Times em reportagem publicada nesta segunda-feira (12). O objetivo, segundo a análise, é consolidar influência econômica e política em uma região historicamente ligada aos Estados Unidos.

De acordo com o jornal, essa movimentação representa uma “janela de oportunidade” para Pequim, que busca se firmar como contrapeso ao poder americano. “O que os povos da América Latina e do Caribe buscam é independência e autodeterminação, não a chamada ‘nova Doutrina Monroe’”, afirmou Miao Deyu, ministro assistente das Relações Exteriores da China, em referência à política do século 19 que buscava limitar a presença de potências externas nas Américas.

Enquanto o governo Trump impõe tarifas sobre produtos latino-americanos — como as taxações de 10% sobre o aço brasileiro — o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil está em posição mais favorável para resistir aos impactos. Ele citou o saldo comercial robusto, reservas cambiais, safra recorde e juros altos como fatores de estabilidade econômica.

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Lula, por sua vez, tem apostado em diversificar as alianças internacionais do Brasil. “Lula vê a China como parceira no reequilíbrio do poder global, não apenas como parceira comercial, mas como um contrapeso geopolítico à hegemonia americana”, afirmou ao NYT o professor Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas.

Nesta terça-feira (13), Lula participa de uma reunião em Pequim com autoridades chinesas e representantes da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), ao lado do presidente colombiano Gustavo Petro. A China já é o principal comprador de commodities da região e, apenas em 2023, o comércio com a América Latina ultrapassou US$ 519 bilhões — mais que o dobro de dez anos atrás.

Apesar do estreitamento dos laços, o governo brasileiro aumentou tarifas sobre produtos como ferro, aço e cabos de fibra óptica — itens que têm forte presença chinesa no mercado. Para analistas, essa postura mais cautelosa visa proteger a indústria nacional frente ao risco de excesso de importações desviadas das tarifas norte-americanas.

“Países como o Brasil têm mantido boas relações com a China, mas estão se movimentando para proteger setores estratégicos. Há o temor de que se tornem destino de excedentes de aço e alumínio chineses”, explicou Ryan Berg, diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

A movimentação reforça o cenário de um mundo cada vez mais multipolar, no qual o Brasil tenta navegar com equilíbrio entre interesses econômicos e geopolíticos de potências rivais.

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