Como a ofensiva de Trump contra o Brasil pode fortalecer Lula rumo a 2026
Tarifa pró-Bolsonaro expõe ingerência externa e pode acionar sentimento nacionalista
A decisão do presidente Donald Trump de sobretaxar produtos brasileiros em 50% como forma de demonstrar apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gerou reações imediatas no Brasil — e pode, paradoxalmente, favorecer politicamente o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida eleitoral de 2026.
Analistas ouvidos pela imprensa nacional e internacional apontam que a ingerência estrangeira em assuntos internos tende a mobilizar o sentimento de defesa da soberania nacional, o que, historicamente, costuma beneficiar o líder em exercício, sobretudo se este conseguir responder com firmeza.
Reação firme de Lula mira o centro do tabuleiro político
Após a divulgação da nova tarifa, Lula reagiu rapidamente, convocando uma reunião de emergência com sua equipe econômica e diplomática, e reiterando que qualquer medida unilateral será respondida com base na Lei de Reciprocidade Econômica. Em nota oficial, o presidente defendeu a independência do Judiciário brasileiro diante das críticas de Trump ao julgamento de Bolsonaro no STF:
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça.”
Ao manter um tom firme, porém diplomático, Lula procurou transformar o episódio em ponto de afirmação da soberania brasileira — uma bandeira que dialoga tanto com sua base quanto com eleitores mais moderados e nacionalistas.
Efeito Trump já influencia eleições mundo afora
O “efeito Trump”, nome dado ao impacto reativo provocado pelas ações do ex-presidente norte-americano em pleitos de outros países, já foi observado em eleições no Canadá, Groenlândia, Austrália e México. Em todos os casos, a retórica agressiva ou intervencionista de Trump acabou fortalecendo os adversários locais de sua linha ideológica.
No Brasil, o cientista político Rafael Cortez avalia que algo semelhante pode ocorrer, ainda que em menor escala devido à alta polarização política. Mesmo assim, em uma eleição apertada, efeitos marginais podem ser decisivos para inclinar o cenário a favor do presidente Lula.
Eduardo Bolsonaro, Trump e a conexão com as sanções
A ofensiva comercial de Trump também tem sido interpretada como uma resposta direta à atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA. O deputado licenciado tem se dedicado a articular apoio à anistia dos envolvidos no ataque de 8 de janeiro e a pressionar por sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Após o anúncio das tarifas, uma carta assinada por Eduardo Bolsonaro e o comentarista Paulo Figueiredo foi divulgada, reivindicando “sucesso na transmissão da realidade brasileira ao governo Trump”. O documento acusa Moraes de violar direitos humanos e afirma que o establishment brasileiro precisa “arcar com o custo desta aventura autoritária”.
Lula ganha impulso — se souber usar
Segundo o cientista político Creomar de Souza, a medida de Trump entregou a Lula uma “bola quicando” em campo aberto: a pauta do nacionalismo. A dúvida, para o analista, é se o governo conseguirá aproveitar esse momento com coesão e clareza estratégica. “Esse é um governo muitas vezes mais focado em disputas internas do que numa agenda coletiva”, aponta.
A retaliação tarifária tem o potencial de fortalecer a imagem de Lula como defensor da soberania e da justiça brasileira. Mas seu impacto dependerá da habilidade do governo em construir uma narrativa nacional consistente, capaz de contrastar com a imagem de submissão que pesa sobre aliados do bolsonarismo.
Com a imagem de figuras como Tarcísio de Freitas e Romeu Zema circulando nas redes com o boné de Trump, o governo aposta que o nacionalismo pode triunfar sobre o alinhamento automático com interesses estrangeiros — um cálculo eleitoral que pode ser decisivo em 2026.
Da redação com informações da BBC News Brasil [PTG-OAI-10072025-0826-4OT]