Imprensa internacional vê ‘provocação a Trump’ e ‘fim da impunidade militar’ no julgamento de Bolsonaro
Jornais como ‘Washington Post’, ‘New York Times’ e ‘El País’ destacam a fala de Moraes sobre soberania, o paralelo com a invasão do Capitólio e o significado histórico do julgamento para a democracia brasileira.
O início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sete aliados por trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) repercutiu intensamente na imprensa internacional. Os principais jornais do mundo destacaram o evento não apenas como um acerto de contas da democracia brasileira com o 8 de Janeiro, but as a landmark moment with profound historical and geopolitical implications.
Da Europa aos Estados Unidos, passando pela América Latina, a cobertura se concentrou em três eixos principais: a interpretação das falas do ministro Alexandre de Moraes como um recado direto a Donald Trump, o significado do julgamento como o possível fim de uma longa era de impunidade militar no Brasil, e a tensão social e diplomática que envolve o caso.
O recado a Washington e o paralelo com a invasão do Capitólio
O principal jornal da capital americana, o Washington Post, manchetou a abertura dos trabalhos com o título: “Juiz brasileiro abre julgamento de Bolsonaro com provocação a Trump”. A reportagem, assim como outras da Reuters e do New York Times, interpretou a fala de Moraes sobre a tentativa de um “outro Estado estrangeiro” de interferir no processo como uma referência inequívoca à pressão exercida pelo presidente americano em favor de seu aliado brasileiro.
O New York Times foi além, afirmando que o julgamento “desencadeou uma crise diplomática” entre Brasil e EUA. Quase todos os veículos traçaram um paralelo direto entre o 8 de Janeiro de 2023 em Brasília e a invasão do Capitólio americano por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021, tratando os dois eventos como parte do mesmo fenômeno global de ataques da extrema-direita às instituições democráticas.
Um marco histórico: ‘O processo que muda o Brasil’
Para jornais europeus e latino-americanos, o significado histórico do julgamento para o Brasil foi o ponto central. O diário espanhol El País publicou um artigo da jornalista brasileira Eliane Brum com o título “O processo que muda o Brasil”, que resumiu o sentimento geral. “Várias gerações morreram antes de ver um militar de alta patente responder por seus crimes perante a justiça civil”, escreveu Brum.
O argentino La Nación classificou o julgamento como “histórico”, ressaltando que o Brasil, ao contrário de seus vizinhos, nunca processou os responsáveis pelos crimes da ditadura militar (1964-1985) devido a uma Lei de Anistia. A visão compartilhada é que, independentemente do veredito sobre Bolsonaro, o simples fato de generais estarem no banco dos réus representa o fim de um longo capítulo de impunidade.
Risco de protestos e a análise do ‘tiro pela culatra’ de Trump
O jornal britânico The Guardian focou nas tensões internas, destacando o reforço da segurança em Brasília e a expectativa de manifestações de apoio a Bolsonaro no Dia da Independência, 7 de setembro. A publicação também trouxe uma análise perspicaz do ex-embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon.
Segundo Shannon, a pressão de Trump para salvar Bolsonaro está tendo o efeito contrário. Ao transformar o caso em uma disputa sobre soberania, as ações do presidente americano acabam por fortalecer a posição do presidente Lula e enfraquecer a de Bolsonaro perante a opinião pública brasileira. A cobertura global, portanto, enxerga o julgamento em Brasília não apenas como um evento brasileiro, mas como um capítulo crucial na disputa mundial entre democracia e autoritarismo.
Da redação com informações da BBC News Brasil
Redação do Movimento PB [GMN-GOO-03092025-094500-A8B3C2-15P]
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