Perfil do Ministério da Defesa Publicou Link com Mensagem de Golpe em 2022, Revela Reportagem

Postagem no X, ainda ativa, direcionava a canal no Telegram com pedido de golpe após derrota de Bolsonaro, enquanto investigações apontam trama golpista.

Uma reportagem publicada neste domingo (9) pelo Estadão e confirmada pelo UOL trouxe à tona um fato controverso: após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022, o perfil oficial do Ministério da Defesa no X (antigo Twitter) divulgou um link que levava a uma mensagem de cunho golpista no Telegram. O caso, que remonta a 7 de novembro de 2022, oito dias após o segundo turno, reacende o debate sobre tentativas de interferência no processo democrático brasileiro, em um momento em que investigações da Polícia Federal (PF) já apontam um planejamento de golpe nos últimos meses daquele ano.

O Que Aconteceu

O tuíte em questão orientava os usuários a acessar uma nota oficial sobre o relatório de fiscalização do sistema eletrônico de votação, elaborado por técnicos das Forças Armadas. No entanto, o link fornecido redirecionava para um canal no Telegram intitulado “Ministério da defesa” — com erro de grafia e apenas 289 inscritos, não sendo um canal oficial da pasta. A mensagem principal do canal dizia simplesmente: “Dê o golpe jair”, com o nome do então presidente em letras minúsculas. Publicado em 9 de novembro e editado no dia seguinte, o conteúdo permanece ativo, assim como o post original no X, que hoje é gerido pelo governo Lula (PT) e conta com 910 mil seguidores.

A publicação ocorreu sob a gestão do general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa e ex-comandante do Exército. Ele é um dos 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado. A defesa de Nogueira, em manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF), alega que ele sempre se opôs a qualquer plano golpista e não integrou esforços para manter Bolsonaro no poder. O Ministério da Defesa, procurado pelo UOL, não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta matéria.

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Contexto de Tensões Pós-Eleitorais

O episódio se insere em um período de alta tensão após as eleições de 2022. Nos últimos dois meses daquele ano, investigações da PF revelaram que integrantes do governo Bolsonaro e aliados articularam um golpe para reverter o resultado das urnas. Segundo os inquéritos, o próprio Bolsonaro se reuniu com comandantes das Forças Armadas para tentar angariar apoio à trama, enquanto militares incentivavam manifestantes a permanecer em frente a quartéis, alimentando a expectativa de anulação do pleito.

O relatório mencionado no tuíte, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 9 de novembro de 2022, não apontou fraudes nas urnas eletrônicas, confirmando a coincidência entre os boletins de urna e os resultados oficiais. Apesar disso, o texto de 22 páginas deixava margem para insinuações de vulnerabilidades, sem provas concretas, o que foi explorado por apoiadores do ex-presidente para questionar a legitimidade da eleição.

Repercussão e Silêncio Oficial

A permanência do post no ar por mais de 28 meses — até hoje, 9 de março de 2025 — levanta dúvidas sobre a gestão das redes oficiais do Ministério da Defesa na transição entre governos. Membros da pasta, consultados informalmente pelo Estadão, não esclareceram se o caso foi resultado de um hackeamento ou de ação deliberada de algum servidor. O canal oficial do Ministério no Telegram, com mais de 20 mil seguidores, não apresenta mensagens semelhantes, sugerindo que o link golpista partiu de uma fonte externa aproveitando-se do contexto.

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Nas redes sociais, a revelação gerou reações imediatas. Usuários no X destacaram a gravidade do fato, com comentários como: “O Ministério da Defesa postou link para canal golpista após a derrota de Bolsonaro. O STF investiga, mas o post ainda está no ar” e “Publicação com ‘dê o golpe, Jair’ ficou 28 meses no perfil oficial. Isso é surreal”. A falta de resposta oficial do Ministério só amplifica as especulações em um caso que já é parte de investigações mais amplas no STF.

Um Passado que Não Passa

O episódio de 2022 não é isolado. Ele reflete um momento em que setores das Forças Armadas e do governo Bolsonaro flertaram abertamente com ações antidemocráticas, como revelam áudios divulgados pela TV Globo em fevereiro de 2025, mostrando militares e civis do Executivo planejando um golpe. A publicação do link golpista, ainda que por um canal não oficial, sugere uma tentativa de amplificar essas ideias entre apoiadores, em um contexto de desinformação e radicalização pós-eleitoral.

Enquanto o governo Lula administra o legado dessas tensões, o caso do Ministério da Defesa expõe fragilidades na segurança digital de órgãos oficiais e reacende o debate sobre o papel das Forças Armadas na democracia brasileira. Com o STF e a PF aprofundando as investigações, a mensagem “Dê o golpe jair” permanece como um eco incômodo de um passado recente que o país ainda luta para superar.


Texto adaptado de reportagens do Estadão e UOL, revisado pela nossa redação.

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