Pressão de Trump para classificar PCC como terrorista preocupa governo Lula
O governo brasileiro monitora com preocupação crescente a possibilidade de o presidente norte-americano Donald Trump classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. A medida, discutida há meses entre diplomatas dos dois países, ganhou força após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e pode representar sérias implicações para a soberania nacional e economia brasileira.
“O desafio de denominar PCC e CV como organização terrorista é que tem que identificar quais grupos estão ajudando essas organizações. E, dado o tamanho e sofisticação, não é fácil”, analisa Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da Eurasia Group.
Contexto geopolítico tenso
A consultoria Eurasia Group incluiu a classificação de facções criminosas brasileiras como terroristas em sua lista de sanções potenciais contra o Brasil após o julgamento de Bolsonaro no STF. O governo Trump já impôs tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes pela Lei Global Magnitsky.
O secretário de Estado Marco Rubio afirmou que novos anúncios de medidas contra o Brasil são iminentes. A possibilidade ganha força diante do foco trumpista no combate ao narcotráfico na região, evidenciado pelo envio de navios de guerra à costa venezuelana e jatos F-35 para Porto Rico.
Divergência conceitual e jurídica
Em maio, o Brasil rejeitou formalmente pedido norte-americano para adotar a designação terrorista para PCC e CV. O argumento brasileiro baseia-se na Lei Antiterrorismo (13.260/2016), que exige motivação por “xenofobia, discriminação ou preconceito” para caracterizar terrorismo – elemento ausente nas facções criminosas, que teriam finalidade predominantemente econômica.
O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, argumentou na época que o governo já combate essas organizações sem necessidade da classificação terrorista, preservando a soberania nacional sobre políticas de segurança.
Implicações para o Brasil
Especialistas alertam para consequências graves caso os EUA avancem com a designação:
- Sanções financeiras: Instituições com operações em dólar teriam que limitar transações com entidades brasileiras consideradas de risco
- Impacto comercial: Congelamento de ativos e dificuldades em transações internacionais
- Questão soberania: Potencial justificativa para intervenções externas em segurança nacional
- Custo político: Críticas internas sobre aceitação de pressão internacional
Preocupação regional
O presidente Lula já manifestou preocupação com o aumento da presença militar norte-americana no Caribe, alertando que “o terrorismo não pode ser confundido com os desafios de segurança pública”. Diplomatas brasileiros temem que o combate ao narcotráfico sirva de pretexto para operações militares na região.
Perspectivas e timing
Analistas da Eurasia Group estimam que a designação não é iminente, mas sua probabilidade aumenta significativamente nos próximos 6 a 8 meses. O processo exigiria identificação precisa de grupos auxiliares das facções, considerando sua sofisticação e penetração no setor privado.
Esta disputa reflete um choque de paradigmas em segurança internacional: de um lado, a visão norte-americana de guerra global contra o terrorismo; de outro, a perspectiva brasileira de soberania nacional e tratamento diferenciado entre terrorismo e criminalidade organizada transnacional. O desfecho poderá redefinir as relações Brasil-EUA e impactar significativamente a economia e segurança regional.
Da redação com informações da BBC News Brasil [DSK-DSK-15092025-1400-V2L]
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