ParaíbaPBPolítica

Vereadora Jô Oliveira e a Força da 2ª Marcha das Mulheres Negras em Brasília

Vereadora Jô Oliveira e a Força da 2ª Marcha das Mulheres Negras em Brasília
Imagem: divulgação

A vereadora Jô Oliveira, representante da Paraíba, marcou presença na segunda edição da Marcha Nacional das Mulheres Negras em Brasília, realizada em novembro de 2025. Durante sua estadia na capital federal, a parlamentar participou de diversas atividades, incluindo uma Sessão Solene em homenagem à marcha e reuniões estratégicas com outros parlamentares, reforçando a importância da agenda paraibana no cenário nacional.

Após uma década, Brasília voltou a ser o epicentro da luta das mulheres negras. Nesta terça-feira (25), mais de 300 mil pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios para a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras. A mobilização, que ocorreu dez anos após o evento histórico de 2015, trouxe como lema central “por reparação e bem viver”, ecoando as demandas e aspirações de um movimento cada vez mais fortalecido.

Mulheres negras de todas as regiões do Brasil e de mais de 40 nações convergiram para a capital federal, transformando a Marcha em uma das mais significativas mobilizações políticas da década. Esta nova edição não apenas carregou o peso simbólico da memória, mas também reafirmou a necessidade de maior protagonismo, enfrentamento ao racismo institucional, ampliação de políticas públicas e mais espaço de poder para aquelas que, historicamente, sustentam o país e são as mais impactadas pelas desigualdades.

A concentração da marcha teve início às 8h no Museu Nacional, seguida por uma sessão solene às 9h no Congresso Nacional, que prestou homenagem ao papel fundamental das mulheres negras na construção da democracia brasileira. Na Esplanada, o ambiente era de reencontro, celebração e um forte chamado à continuidade da luta.

Passos que Vêm de Longe: A Força da Ancestralidade

“Tudo isso é resultado do trabalho de quem veio antes da gente”, afirmou a militante histórica Ieda Leal, do Movimento Negro Unificado (MNU), sublinhando que as conquistas atuais são fruto de mais de quinhentos anos de resistência. Para Leal, a marcha enviou um recado claro ao país: “Nós vamos ocupar todos os espaços da associação de bairro à presidência da República.”

A fala de Ieda sintetiza o espírito do encontro: uma marcha de continuidade, não de reinício. Ela lembrou que o movimento não nasceu em 2015, mas é herdeiro de gerações que lutaram sem reconhecimento. “Nós já sofremos demais. Hoje aqui, a marcha é para o bem viver, e é o bem viver de todo mundo, porque nós não temos nenhum tipo de egoísmo”, declarou.

Representando o Reino Luba Bakwa Luntu, no Sul da República Democrática do Congo, a Rainha Diambi Kabatusuila destacou ao Brasil de Fato DF a dimensão histórica e internacional da Marcha. Ela pontuou que a violência contra mulheres não é uma realidade isolada do Brasil, mas um fenômeno global. “Não há justiça para mulher negra no mundo, não somente no Brasil, é na África também, essa luta não é somente para o Brasil”, afirmou.

A Rainha reforçou que a mobilização das mulheres negras brasileiras inspira e ecoa além das fronteiras. “O Brasil está mostrando que é um modelo de resistência, modelo de força, modelo de unidade da mulher negra, para mostrar a força, a capacidade de unir, de reunir a um poder muito grande neste país”, completou. Para ela, o movimento é também uma afirmação de identidade e ancestralidade: “como eu estou representando a força do nosso passado, a nossa cultura, a nossa herança, para mostrar que nós somos resistência”.

Reparação e Bem Viver: Um Projeto Político de Sociedade

A Marcha organiza-se em torno de um projeto político de sociedade: o bem viver. Inspirado em concepções latino-americanas e afro-diaspóricas, este conceito defende uma sociedade comunitária que prioriza o cuidado, a dignidade, o respeito, a soberania e políticas coletivas que garantam direitos básicos para todos.

Rosilene Costa, do Movimento de Mães Autônomas do Distrito Federal (Mama-DF), enfatizou que esta marcha ocorre em um momento político marcado por memória e dor recente. “Nós sofremos um golpe [em 2016] que atingiu a vida das pessoas de uma forma sem igual, nós tivemos muitas mortes nesse período [desde a pandemia], muitas famílias foram desestruturadas”, lamentou.

Para Costa, a marcha também simboliza uma recuperação histórica. “Mas a gente venceu, e quando eu falo a gente venceu, as mulheres negras venceram. As mulheres negras levantaram de novo a democracia, elas ergueram uma nova marcha e agora a gente marcha por reparação e bem viver.” Ela afirmou que reparação não é abstrata: “Reparação está no direito da mulher de ter creche, no direito da criança de ter parquinho, no direito de viver numa cidade boa.”

Mulheres Negras Pelo Clima: Liderança na Pauta Socioambiental

A pauta socioambiental também ganhou destaque significativo este ano. “A crise climática é um tema das mulheres negras efetivamente, porque a maioria que sofre as consequências são as comunidades negras desfavorecidas e principalmente as mulheres”, afirmou Zézé Pacheco, da articulação Vozes Negras Pelo Clima da Bahia.

Pacheco defendeu que não basta reconhecer o impacto; é crucial mudar quem decide. “Nós estamos em poucos espaços de definição. A gente precisa inverter essa lógica, esse modelo de desenvolvimento numa perspectiva do bem viver.” Ela ressaltou que o debate ambiental não pode ser conduzido por quem nunca sentirá o peso das enchentes, secas, desastres e deslocamentos forçados. “Envolver as mulheres na discussão e garantir financiamento para que as coisas aconteçam é uma condição de justiça ambiental básica.”

Outro elemento marcante da marcha foi a pluralidade de pautas e demandas, reunindo mulheres quilombolas, mães de vítimas da violência de Estado, mulheres do campo, professoras, sindicalistas, artistas, intelectuais, estudantes e também mulheres negras LGBT+.

A travesti Maya Alves Rodrigues, do Fórum das Mulheres Negras da Maré, no Rio de Janeiro, lembrou que o movimento sempre foi multivoz, mesmo quando o país tentou apagá-las. “É uma possibilidade da gente reescrever essa história em conjunto, tornando um futuro bem mais possível para a gente no presente”, disse. Rodrigues ressaltou que a presença de mulheres negras trans e travestis não é uma adição tardia ao movimento, mas parte fundamental de uma luta mais ampla contra as violências políticas, econômicas, sociais e morais que estruturam o país há séculos.

Democracia e Representatividade: O Centro da Decisão Política

A marcha também abordou diretamente as disputas políticas contemporâneas. Parlamentares presentes reforçaram que, apesar dos avanços, as mulheres negras continuam sendo as mais atingidas pela fome, desemprego, precarização e ausência de políticas públicas.

Para a deputada estadual Rosa Amorim (PT-PE), não há como falar em democracia sem orçamento e decisão política voltados a enfrentar desigualdades estruturais. “O Brasil tem a cara da mulher negra, mas infelizmente até hoje nós somos as que mais passam fome, que não têm política de soberania alimentar e que ocupam os piores empregos”, afirmou. À reportagem do Brasil de Fato DF, a parlamentar completou: “Se a gente quer de fato aprofundar nossa democracia, a gente precisa que as mulheres negras estejam no centro da decisão política.”

Continuidade da Luta: Transformando Memória em Movimento

Luyara Franco, diretora-executiva do Instituto Marielle Franco, destacou que o ato reafirma a luta permanente e insurgente das mulheres negras. “Marchar hoje ao lado de milhares de mulheres negras é afirmar que não aceitarão calar nossa voz nem apagar nossa história. Essa Marcha é sobre reparação, sobre bem viver e sobre a certeza de que seguimos transformando a memória da minha mãe em movimento, em política e em futuro”, afirmou.

A diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, fez questão de lembrar que a marcha acontece também no Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, conferindo outra dimensão ao ato. “Racismo traz na sua esteira muita violência. Feminicídio, violência policial, violência de rua e tudo isso atinge principalmente as mulheres negras e as comunidades negras.”

Werneck enfatizou que esta marcha é mais uma resposta organizada a uma onda reacionária global. “Essa é a hora de dizer mais uma vez: basta. É a hora de dizer mais uma vez que tem que fazer diferente pelo fim da violência e com reparações.”

A marcha percorreu toda a Esplanada, ocupando o centro do poder do país com mulheres negras organizadas em alas regionais e uma internacional. A programação cultural gratuita continuou até a noite.

Da redação do Movimento PB.

[MPBAI | MOD: 2.5-FL | REF: 6927231A]