Ir ao banheiro pode parecer um ato trivial, mas a ciência mostra que a frequência com que evacuamos está profundamente conectada ao nosso estado geral de saúde. Um amplo estudo liderado pelo Institute for Systems Biology, nos Estados Unidos, com dados de mais de 1.400 adultos saudáveis, revelou que defecar uma ou duas vezes ao dia está relacionado a um equilíbrio físico e microbiano mais favorável — uma condição descrita pelos pesquisadores como a “zona ideal”.
Pessoas que mantêm esse padrão tendem a adotar hábitos saudáveis, como consumir fibras em quantidade adequada, manter boa hidratação e praticar atividades físicas com regularidade. Esses fatores auxiliam o funcionamento intestinal, promovem uma microbiota intestinal diversa e mantêm o trato digestivo operando de forma eficaz. A saúde do fígado e dos rins também se beneficia, já que o intestino regula parte da sobrecarga tóxica que poderia afetar esses órgãos.
Por outro lado, evacuar menos de três vezes por semana — um quadro caracterizado como constipação — pode comprometer a microbiota intestinal. Quando as fezes permanecem por muito tempo no intestino, as bactérias deixam de fermentar fibras e passam a quebrar proteínas, produzindo substâncias tóxicas como o p-cresol sulfato e o indoxil sulfato. Esses compostos são absorvidos pelo sangue e, ao chegar aos rins, podem causar inflamações e lesões que afetam a função renal.
Na outra extremidade, evacuar mais de três vezes ao dia também levanta preocupações. Esse hábito pode estar relacionado a distúrbios intestinais, inflamações ou até problemas hepáticos, já que a passagem acelerada das fezes prejudica a absorção de nutrientes e afeta o equilíbrio do sistema digestivo como um todo.
Além dos impactos físicos, a frequência das evacuações mostrou-se fortemente relacionada à saúde mental. Indivíduos fora da “zona ideal” apresentaram maiores níveis de estresse, ansiedade e sintomas depressivos. Essa conexão reforça a importância do eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação entre o sistema digestivo e o sistema nervoso central que afeta diretamente o humor, o comportamento e o bem-estar emocional.

Os pesquisadores, no entanto, fazem uma ressalva: evacuar fora da faixa considerada ideal não é necessariamente motivo de preocupação. O mais importante é a consistência do hábito ao longo do tempo. Mudanças persistentes, acompanhadas de dor, desconforto, alteração na forma, cor ou textura das fezes, devem ser avaliadas por um profissional de saúde.
Outro fator que influencia o hábito intestinal é o horário do dia. Pesquisas anteriores indicam que o intestino apresenta maior atividade nas primeiras horas da manhã, logo após o despertar, quando os estímulos gastrointestinais estão mais intensos. Embora não exista uma regra fixa, esse pode ser um momento fisiologicamente propício para evacuar com maior facilidade.
Com o avanço da tecnologia, inclusive, surgem novas ferramentas para auxiliar no monitoramento da saúde intestinal. Aplicativos baseados em inteligência artificial estão sendo desenvolvidos para analisar características das fezes e oferecer recomendações personalizadas, promovendo uma relação mais consciente com o funcionamento do corpo.
Mesmo que o tema ainda gere desconforto, observar o próprio cocô é uma atitude de cuidado e autoconsciência. As fezes revelam muito sobre o que está acontecendo dentro do organismo — e, muitas vezes, podem ser o primeiro sinal de que algo precisa de atenção. Falar sobre isso, portanto, é um passo essencial para uma vida mais equilibrada e saudável.