Saúde

Aspirina de baixa dose pode reduzir risco de recorrência de câncer colorretal em 55%, sugere estudo

Aspirina de baixa dose pode reduzir risco de recorrência de câncer colorretal em 55%, sugere estudo

Um estudo conduzido pelo Karolinska Institute, na Suécia, revelou que a aspirina em baixa dose pode reduzir em até 55% o risco de recorrência de câncer colorretal em pacientes com mutação no gene PIK3, presente em cerca de um terço dos casos desse tipo de câncer. Com o câncer colorretal representando 8% dos novos casos de câncer em 2025, segundo estimativas, e sua alta taxa de recorrência, a descoberta aponta para uma possibilidade acessível e econômica de melhorar os desfechos para esses pacientes, especialmente quando o câncer é detectado precocemente, com taxas de sobrevida de 90-91% em cinco anos.

Estudo clínico com resultados promissores

O estudo, realizado em formato duplo-cego, envolveu 626 pacientes com idades entre 31 e 80 anos, todos com mutação no gene PIK3, que está associada a um maior risco de recorrência. Após cirurgias para retirada do tumor, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu 160 mg de aspirina diariamente — uma dose inferior à usada para tratar dores de cabeça — e o outro, um placebo. Durante três anos, os pacientes foram acompanhados a cada três meses, com exames de imagem periódicos para monitorar a recorrência do câncer.

Os resultados foram surpreendentes: o grupo que tomou aspirina apresentou uma redução de 55% no risco de recorrência em comparação com o grupo placebo. Entre os usuários de aspirina com mutação PIK3, apenas 7,7% enfrentaram recorrência, enquanto no grupo placebo a taxa variou entre 14,1% e 16,8%. A análise também indicou que o efeito foi particularmente pronunciado em mulheres, embora os pesquisadores ainda não compreendam completamente o motivo, sugerindo a necessidade de estudos adicionais.

Por que a aspirina funciona?

Os pesquisadores acreditam que a aspirina atua reduzindo a inflamação e interferindo nas vias de sinalização que impulsionam o crescimento tumoral em casos com mutação PIK3. “Este estudo é um dos primeiros ensaios randomizados a demonstrar que a aspirina pode melhorar a sobrevida em pacientes com câncer colorretal que expressam o gene PIK3”, destacou Anton Bilchik, cirurgião oncológico e diretor do Programa Gastrointestinal do Providence Saint John’s Cancer Institute, em entrevista ao Medical News Today. Ele classificou os resultados como potencialmente transformadores para a prática clínica.

No entanto, Bilchik alertou que os pacientes precisam testar seus tumores para confirmar a presença da mutação PIK3 antes de incorporar a aspirina ao tratamento, além de discutir os riscos com seus médicos. Embora a aspirina seja geralmente segura, seu uso regular pode aumentar o risco de sangramentos gastrointestinais, com o estudo apontando um aumento de 5,2% em eventos adversos graves no grupo que usou aspirina em comparação com o placebo.

Relevância para a Paraíba e o Nordeste

Embora o estudo seja de origem internacional, seus resultados têm implicações importantes para a Paraíba e o Nordeste brasileiro, onde o câncer colorretal é uma preocupação crescente devido ao envelhecimento da população e à mudança nos padrões alimentares. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimam que o câncer colorretal será responsável por cerca de 45 mil novos casos no Brasil em 2025, com o Nordeste enfrentando desafios de acesso a diagnósticos precoces e tratamentos avançados. A aspirina, por ser um medicamento acessível e amplamente disponível, poderia representar uma estratégia viável para reduzir a recorrência em pacientes paraibanos com mutação PIK3, desde que implementada com acompanhamento médico para minimizar riscos.

Além disso, a descoberta reforça a importância de programas de triagem precoce, como colonoscopias, que são subutilizados em estados como a Paraíba devido a barreiras de infraestrutura e conscientização. Iniciativas como as campanhas do INCA no Nordeste poderiam integrar a aspirina como parte de protocolos personalizados, especialmente em centros de saúde como o Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa, referência regional em oncologia.

Perspectivas para tratamentos personalizados

Os resultados do estudo abrem caminho para uma abordagem mais personalizada no tratamento do câncer colorretal, destacando a importância de identificar mutações genéticas específicas, como a do gene PIK3, para otimizar terapias. Joshua C. Lukenbill, oncologista da University of Iowa Health Care, enfatizou a relevância dos achados, especialmente considerando a incidência crescente de câncer colorretal em pacientes mais jovens sem fatores de risco tradicionais. Contudo, ele alertou: “A aspirina de baixa dose não é tão inofensiva quanto parece. Eventos adversos graves, principalmente relacionados a sangramentos, foram observados em maior proporção no grupo que usou aspirina.”

A integração da aspirina em protocolos oncológicos pode transformar o manejo do câncer colorretal, mas exige cautela e mais pesquisas para esclarecer os mecanismos de ação e os impactos de longo prazo. Para a Paraíba, onde o acesso a tratamentos inovadores é limitado, a aspirina pode representar uma solução prática e de baixo custo, desde que aplicada com rigor científico e supervisão médica, reforçando a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso à triagem e ao diagnóstico molecular.


“Este estudo é um dos primeiros a demonstrar que a aspirina pode melhorar a sobrevida em pacientes com câncer colorretal que expressam o gene PIK3”, disse Anton Bilchik, cirurgião oncológico.


Traduzido e adaptado de Medical News Today [GRK-XAI-30092025-1729-V1G]


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